domingo, 29 de abril de 2018

À FLOR DA PELE


                                      Quando minha mãe estava nervosa com minhas traquinagens ou de meus irmãos, ela dizia: “Eu já estou à flor da pele com vocês”. Lá na minha tenra idade, não imaginava, que aquela manifestação de nervosismo, chamava-se stress. E que o tal do stress, afetava o sistema imunológico, deixando o corpo vulnerável às doenças internas e externas.

                                   Lá adiante, após tornar-me um letrado, passei a estudar o comportamento humano e da natureza. Foi então que descobri, uma série de doenças, que o homem adquiriu ora por hereditariedade ora por falta de cuidados com a saúde. Uma vez na posse dessas ou daquelas doenças, teve que recorrer a tratamentos médicos e de remédios. Foi correr atrás da cura, coisa que poderia ter sido evitada.

                                   Na falta de cuidados, estão os da pele. Dentre as doenças da pele, estão: câncer, dermatite atópica (eczema), alopecia areata (queda de cabelo), acne (espinhas), escabiose (sarna), psoríase (mancha), verrugas e rosácea (vermelhidão). Vemos na literatura médica e nos comerciais de beleza, uma série de cuidados, tratamentos e produtos, a fim de curarem ou de diminuírem os efeitos da doença.

                                   Diz a literatura médica e o “achismo”, que há uma série de cuidados que devemos tomar com a pele, senão vejamos: limpar, tonificar, cuidar e proteger. Devemos usar produtos adequados, pois os homens e as mulheres reagem de formas diferentes. Ainda se falando de imunidade, diz um especialista: “O sistema imunológico é essencial para que o organismo consiga se defender da ação de agentes nocivos à saúde. Portanto, quando ele é comprometido, deve-se redobrar a atenção para os riscos, ainda mais porque diversos fatores contribuem para uma baixa imunidade. Má alimentação, falta de cuidados com a higiene, stresse, cigarros, consumo de drogas, bebida alcoólica e mudanças climáticas, são alguns deles”.

                                   Os conselhos médicos dizem que: “O grande problema de um sistema imunológico enfraquecido é que ele facilita a entrada de uma série de doenças. Vírus, bactérias, fungos e parasitas, costumam causar infecções. Doenças autoimunes como lúpus, vitiligo e psoríase também são muito comuns. Herpes, amigdalite, gripes, bronquiolite, infecções na pele, queda de cabelo e unhas fracas são outros indicativos dessa fragilidade”.

                                   Portanto, uma boa forma de evitar a baixa imunidade, é uma boa alimentação, hidratar-se bem, umidificação das vias respiratórias, corpo aquecido, boas noites de sono, limpeza do meio em que vive e não se estressar.

                                   Se ainda criança, eu soubesse de tudo isso, não deixaria minha mãe nervosa e estressada. Evitaria que ela adquirisse muitas doenças, dentre elas, algumas de pele, caso tivesse propensa a isso.

                                   A frase: “Eu já estou á flor da pele com vocês”, ainda povoa a minha mente e fere os meus ouvidos. Hoje, gostaria de dizer a ela: “Não vamos mais irritar a senhora”.
Peruíbe SP, 29 de abril de 2018

quinta-feira, 26 de abril de 2018

EDUCAÇÃO: SALVA OU DELETA?


                        Não sei de quem herdei o gosto pela escrita, talvez de um antepassado. Creio que se fizer uma regressão, eu seja da linhagem de Machado de Assis ou Rui Barbosa, talvez. Aos onze anos, escrevi a primeira poesia, num papel de pão, comprado na Padaria do Toshio. De lá para cá, não parei mais... virou uma necessidade... um vício. Quando no banco escolar, folheei pela primeira vez, as páginas encantadas da cartilha “Caminho Suave”, fui ao delírio.

                                   De lá para cá, não sei o porquê, mas virei um devorador de livros e um frequentador assíduo de bibliotecas. O ato de procurar os livros nas estantes empoeiradas e, depois, folhear página por página, ler e reler o texto e, por último, resumir em poucas linhas o que foi absolvido da leitura, era algo prazeroso. Quando os mestres, passavam trabalhos extraescolares, nós íamos, na maioria das vezes, em grupos à biblioteca municipal.

                                   Das lembranças daquelas peregrinações, cujo tempo não apaga, fica a certeza de que estudávamos com mais afinco. O aprendizado vinha da persistência e não da decoração do que se lia. Por isso, até hoje, consigo lembrar com suavidade, aquilo que absolvi na infância. Por outro lado, professores abnegados, não mediam esforços, no sentido de transmitirem seus conhecimentos e experiências de vida. Admirava neles, a paciência em nos ensinar cada sílaba, cada palavra, cada frase ou cada cálculo matemático.

                                   Hoje, passados tantos anos, vejo que a caminhada entre o conhecimento, adquirido de forma arcaica e a tecnologia avançada, existe um grande despenhadeiro. Transpor essa barreira, é um privilégio de poucos. O mundo passou a ter pressa e, para isso, criaram facilidades. Tudo está ao alcance dos dedos e, portanto, basta apertar um botão e tudo se resolve. Não podemos perder de vista, que tudo na vida tem um preço e que o progresso cobra muito caro.

                                   Os aparelhos modernos, cuja origem não se sabe de onde veio, invadiram os lares, as empresas e a privacidade das pessoas. Já há muito tempo, deixamos de pensar e sentir. Conversamos muito pouco e, quando isso acontece, são feitos através de monólogos. Escrever frases, com sabor de conhecimento e de cultura, nem pensar. No seu lugar, estão as abreviações de palavras ou termos chulos e indecifráveis. O nosso vernáculo, cujo berço vem do latim, está adoecendo aos poucos e tende a ser sepultado na vala comum do esquecimento cultural.

                                   As notícias, viajam a mil anos luz. Há um derrame de informações, por isso, não há tempo hábil para saborear o que se ouve ou que se lê. Por essa razão, creio na necessidade urgente de se frear ou controlar o uso descabido da cultura digital. Ao meu ver, isso prejudica sobremaneira a educação nas escolas. A tecnologia, ao invés de se tornar aliada da educação, tornou-se uma inimiga capital. O tempo urge para que algo seja feito, antes que seja tarde demais.

                                   Os recursos do “copia e cola”, tão presentes no sistema de ensino atual, cujo fim é um mistério, levam as novas gerações, à ignorância total. Não é à toa, que construções desabam, nas mesas de projetos inacabados; pessoas morrem, nas mesas de cirurgias, onde os bisturis não se entendem; inocentes vão para o cárcere, diante de condenações não fundamentadas. Tudo isso, por culpa da educação, alicerçada na base do “copia e cola”. Bendita é a maldita tecnologia, que não soube separar o conhecimento real da preguiça cultural.

                                   Acho melhor parar por aqui e, antes que eu me perca em cansativas delongas. Melhor então, é deletar possíveis críticas a tecnologia, tão amada e venerada pelos escravos da internet e de tantos “sites” que ora povoam a mente de cidadãos não pensantes.

                                   O que tem que ser dito, merece que seja bendito.

 

Peruíbe SP, 24 de abril de 2018.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

CASA, MINHA CASA


                              Lembro-me com saudades de um tempo ainda não muito distante. Como numa película de cinema, revejo cada cena de minhas andanças, pelas ruas descalças da infância. Sem preocupações com o tempo, corria para lá e para cá, em brincadeiras intermináveis. Minhas traquinagens, às vezes, se estendiam noite adentro. De vez em quando, ouvia os gritos de minha mãe: “Vem pra dentro, menino, já é tarde”. 

                                   Guardo na memória a imagem dos amigos, que povoaram a minha tenra idade. As cantigas de roda, os jogos de burquinha (bola de gude), as longas histórias, contadas pelos meus avós, velhas canções de ninar, os banhos nas cachoeiras de águas cristalinas, o bodoque, o estilingue, as arapucas para apanhar pássaros distraídos. Tudo isso, não sai da minha memória. Saudade de tudo e de todos. Tempo que não volta mais!

                                   A casa, envelhecida pelo tempo, guarda um tesouro inestimável. Foi ali que aprendi o sentido exato da palavra família. Meu pai, com seu jeito sisudo e minha mãe, com sua voz baixa e compassada, mostravam-me a ambiguidade da vida. E, assim, aos poucos, fui me acostumando a lidar com as procelas do cotidiano. Cresci e amadureci, nem tento. Porque a raiz do nosso tempo, fica impregnada na nossa alma e no nosso coração.

                                   Mas a casa, a velha casa, com sua roupa desbotada, as janelas e as portas escancaradas para o horizonte, dizia-me que a vida não tem barreiras e nem distâncias. O silêncio do seu interior, sussurrava aos meus ouvidos, coisas que um futuro não muito distante, colocaria defronte meus olhos ainda inocentes. Nascemos para o mundo e não para ficarmos presos a passados remotos.

                                   Por isso, quando vejo a foto amarelada da minha velha casa, pendurada na parede, desgastada pelo tempo, lacrimejam meus olhos. Às vezes, eles lacrimejam de saudade e, na maioria das vezes, de tristeza, por saber que eu cresci e dela me apartei, sem ao menos me despedir. Mas, em que pese minha ingratidão, ela continua lá, encravada na minha terra natal, esperando por mim.

                                   Parece que, de vez em quando, suas portas e janelas se fecham, para chorar em silencio, a minha ausência. Lá na chaminé, um tufo de fumaça, anuncia a agonia que emana daquela casa centenária, que abrigou toda a minha família e toda a minha história. Para os outros, é uma casa carcomida pelo tempo, mas, para mim, é um álbum de família, guardando em seus cômodos, um sonho que ainda não acabou.

                                   Vejo lá dentro, uma lamparina de querosene, com a chama quase apagando e piscando para mim. Na realidade, é a chama da esperança, de que nem tudo está perdido, nem tudo é passado. Um dia, vou voltar à velha casa e dar um abraço e um beijo infinito. Um sentimento de quem nunca perdeu a essência da simplicidade. 

                                   Casa, minha casa, quanta saudade de ti!
Peruíbe SP, 23 de abril de 2018

terça-feira, 10 de abril de 2018

REMINICENSCIAS CAMPESINAS


                                    Para começar essa dissertação, devo confessar que não sou muito adepto ao mundo moderno, pois a tecnologia às vezes me assusta. As parafernálias descobertas neste século criam a uma confusão enorme na minha memória. Sei que muitas doenças, até então desconhecidas e incuráveis, só foram identificadas, graças ao avanço da medicina e da ciência. Nesse momento, entram os computadores e máquinas ultramodernos.

                                   É nesse ponto, que acabo me rendendo ao mundo robotizado de hoje. Quem, por exemplo, nasceu nos anos dourados, sem violência e onde as doenças eram curadas com plantas ou benzimentos, tem que se acostumar com o que hora se apresenta. Fui aos poucos e sem querer, assimilando o comportamento e o linguajar de hoje. Mas esse sacrifício, jamais vai custar o abandono das minhas origens e tradições.

                                   Creio que as pessoas percebem que sempre me reporto à minha terra natal, quando falo sobre coisas que marcaram a minha formação ética e moral. Lá está a argila que moldou a alma e o coração de uma pessoa simples e, que, embora o mundo tenha tentado corromper, não obteve êxito. Só Deus sabe a luta que tenho enfrentado para vencer as procelas da vida. O jardim florido da praça matriz e as ruas descalças da minha cidade conhecem de cátedra o meu proceder.

                                   Um conterrâneo inspirado e valendo de recursos modernos, criou um grupo denominado “De volta ao passado”, isso no tal de zap zap. Venho acompanhando diuturnamente, a conversa dos participantes. Através do bate-papo descontraído deles, passo a recordar do nome de pessoas, perdidas na memória. Alguns fatos e lugares pitorescos transportam-me para os mais remotos e longínquos rincões da minha infância. Deito no colo da saudade e sonho com tempos que não voltam mais.

                                   Ao vê-los retratar a vida bucólica do lugar, viajo no tempo e descubro que muitos amigos da infância, tornaram-se médicos, dentistas, advogados, empresários, fazendeiros, artistas, economistas, contadores de história e por ai se vai. A música “No dia que sai de casa”, cantada por Zezé Di Camargo e Luciano, retrata bem o que se passou comigo e com meus conterrâneos. Disse um trecho da letra: “Sempre ao lado do meu pai, da pequena cidade, ela (mãe) jamais saiu. Ela me disse assim, Meu filho vai com Deus, que esse mundo inteiro é seu”.

                                   Ganhamos o mundo, estrada a fora. Desbravamos lugares desconhecidos e viajamos por galáxias dantes navegadas. Mas, em momento algum, perdemos a nossa essência. A vida modernizou, mas continuamos firmes e presos à nossa raiz. As coisas simples do sertão continuaram impregnadas na nossa alma e no nosso coração. Sinto o cheiro do café no torrador, depois moinho e passado no coador de pano. A comida cozida no fogão a lenha e as modas de viola fazem de mim um caipira nato.  

                                   Mas, ao apreciar as conversas da turma “De volta ao passado”, trouxe-me uma notícia, deveras triste por demais. Um dos meus grandes amigos de infância, com quem eu passava tardes e tardes, assistindo os filmes e desenhos em preto e branco, em companhia dos pais e do irmão dele, partiu antes do combinado, isso a cerca de dois anos atrás. Isso me pegou de surpresa e me fez entender, que a infância se transforma em realidade e que a vida é breve.

                                   As peraltices, as brincadeiras na rua descalça, as histórias contadas pelos nossos avós, das lendas em noites enluaradas, o primeiro amor platônico, o badalar do sino na torre da igreja matriz, as cachoeiras de águas cristalinas, os bailes no terreirão da fazenda, o ordenhar da vaquinha Mimosa, o latido do cachorro Pitoco, o trote do cavalo pangaré, são reminiscências do campo, da roça e de uma vida simples e sem maldade.  

                                   O meu amigo que se foi, antes do combinado, deixou doces marcas em mim. Estou certo de que ele foi à frente de nós, preparar outro lugar tão simples e aconchegante como o da nossa terra natal. Quando chegarmos lá e isso não tarda, vamos encontra-lo sorrindo para nos receber. Vamos sentar em torno dele e, num papo descontraído, recordar da nossa vida campesina.

 

Peruíbe SP, 10 de abril de 2018.