domingo, 25 de fevereiro de 2018

METÁSTASE


                                       Quando, pela primeira vez, sentei-me numa carteira escolar, nunca mais me apartei dos estudos e da busca incansável pelo desconhecido. O meu comportamento inquieto, foi sempre o diferencial entre eu e os colegas de carteira, do tempo em elas eram duplas. Não é exagero dizer, que sempre sentei na primeira fileira, para estar bem próximo do mestre e dele, degustar de todo seu conhecimento. Locupletar de toda sua sabedoria e experiência de vida.

                                   Essa ânsia pela cultura, tem-me custado horas de sofrimento e de depressão. Tenho me preocupado em demasia com a transitoriedade da vida e com a mudança de comportamento dos seres racionais, que infestam esse planeta. A terra agoniza e pede socorro, mas ninguém vê isso. A ganância desenfreada é um vírus letal, que infecta a alma humana e arrasta o corpo para o desterro do desconhecido.

                                   Esse vírus assexuado migrou para vários segmentos da sociedade e, através das artérias desprotegidas (ética e moral), infectou o corpo inteiro (país). Uma vez alastrada a doença, pouco há que se fazer. Os cientistas e médicos (políticos) buscam remédios paliativos, o que de nada adianta. Apenas maquiam a realidade e enganam os pacientes (povo) terminais.

                                   Na infância, aprendi que o mal se mata pela raiz. Ou ainda, que o tronco da árvore se conserta ainda novo, pois, depois de velho, não tem mais jeito. O vírus enraizado no homicídio, tráfico, roubo, furto, estupro, corrupção, lixo musical, prostituição eletrônica, apologia ao crime, dentre tantos outros males modernos, deveria ser extirpado em seu nascedouro. No entanto, sob o manto da tal democracia e do famigerado “direitos humanos”, fizeram-se vista grossa a essa doença devastadora.

                                   Há muitos anos, a realidade nua e crua, vem apontando as falhas no tratamento dos sintomas iniciais da doença chamada violência. Medidas ineficazes e remédios falsos colaboraram sobremaneira para que a infecção transformasse numa septicemia aguda, comprometendo todo o corpo (sociedade), da cabeça (norte) aos pés (sul). O médico (governo) tinha nas mãos o bisturi (solução) para cortar na carne, os males futuros. Não o fez por incompetência ou por interesses eleitorais.

                                   Agora que o corpo está em coma profundo, surgem medidas drásticas como que querendo salvar o que perdido está. E eu fico aqui de mãos atadas, engolindo seco o que a mídia manipuladora tenta dizer o que é certo. Vejo a sociedade seguindo por caminhos tortuosos, feito gado rumo ao matadouro. Por onde anda a esperança de dias melhores? A juventude dos “caras pintadas” está escondida no ostracismo e, por isso, prefere calar-se.

                                   Quando meus pais levaram-me para a escola, a fim de cumprirem o dever social da minha alfabetização, não imaginaram que me transformaria num cronista ou um contador de história. Bendita a hora que eu manuseei, pela primeira vez, a cartilha “Caminho Suave”. Ela foi a porta aberta para o conhecimento e os questionamentos das injustiças sociais. O gosto pela leitura fez de mim um devorador de livros e, por conseguinte, um pesquisador do desconhecido.

                                   Quanto à metástase, mencionada pelo governante maior, durante uma entrevista jornalística, resta apenas rogar a Deus por um milagre divino, a fim de curar o corpo doente.

Peruíbe SP, 25 de fevereiro de 2018.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

A BUNDA QUE ABUNDA


                                  Podem me chamar de quadrado ou careta. Sou de um tempo que ainda manda flores. Não sou pré-histórico, apenas valorizo o passado. Tratar as pessoas mais velhas ou desconhecidas de “senhor” ou “senhora”, bem como, dizer “por favor” ou “muito obrigado”, sempre fez parte do meu verbete. Os progenitores, preocupados com o futuro e sabedores do mundo que eu iria enfrentar, prepararam-me para as grandes procelas da vida. Sabiam que eu teria que matar um leão por dia, para continuar sobrevivendo.

                                   Aprendi que um elo, ao unir ao outro e assim por diante, ao final, formam uma corrente. Basta um elo se romper e a corrente se desfaz. Por isso, procurei educar meus filhos, aos moldes antigos, a fim de que não se rompesse as tradições sociais e familiares. Minha prole tem um gosto refinado em tudo. O mais velho, adora música sertaneja raiz; o do meio, é devorador de livros e a caçula, preza a moral e os bons costumes. Por isso, o elo de minha família continua firme, indestrutível.

                                   Mas, ao abrir o leque da visão mundana, vejo uma sociedade arrastada por formadores de opinião, da pior extirpe. Lixos novelescos e prostitutas televisivas, ensinando o que há de mais nojento a uma juventude desvairada. O culto selvagem ao corpo e o linguajar chulo das mulheres de hoje, sepultaram a beleza singela, das moçoilas recatadas, de um tempo não muito distante. Deixaram de serem escravas de velhos costumes, para serem devoradas por um consumismo desenfreado.   

                                   Sou um grande admirador e defensor do sexo feminino. A mãe, irmãs, primas, sobrinhas e filhas, são provas de que minha vida não teria sentido, se elas não existissem no meu universo interior. Felicito-me em saber, que seguem princípios, escritos e desenhados pelos antecessores. Por outro lado, choro copiosamente, quando deparo com uma gama de mulheres, expondo o corpo, como se fosse peça de consumo, sem qualquer escrúpulo.

                                   Outro dia, uma fedelha, vestiu-se com roupas minúsculas, ao se preparar para uma festa. Deixou claro que saiu para ser caçada e não cortejada. Os seios e a polpa das nádegas, quase expostos, era o chamariz para atrair o macho e, consequentemente, ser devorada por ele. Dizem que quem gosta de passado é museu, mas reporto aos tempos de minha infância, na cidade natal. Era lindo ver as meninas faceiras, sendo cortejadas, enquanto desfilavam delicadamente, ao redor do chafariz ou do coreto, existente na praça matriz.

                                   Única arma usada para atrair o pretendente, era o charme no vestir e nos trejeitos de andar. A voz adocicada e palavras cuidadosamente escolhidas faziam delas verdadeiras joias a serem conquistadas e levadas ao altar. Hoje, em razão da desvalorização da moeda corrente (princípios femininos), se forem levadas ao motel, já está de bom tamanho. Depois de usadas e reusadas, nada mais servem. Quem faz do corpo o seu bem maior, um dia cai sua cotação na bolsa de valor, dos predadores de plantão. As ninfetas de hoje, querem apenas copular.

                                   Dói na alma e aperta o coração, ver a que ponto chegou o universo feminino, onde a vulgaridade impera soberana. Depois de se oferecerem a preço de banana, acusam os devoradores masculinos mais afoitos, de assédio ou de violência sexual. Cobram do macho, comportamento ético e moral esquecendo que, em momento algum da sua trajetória humana, buscou agir de forma digna e respeitosa.

                                   Ao invés de realçar as qualidades interiores, a mulher procurou valorizar os glúteos. Bunda para os íntimos. Para os que fazem apologia ao sexo, quanto mais bunda melhor. Creio que a anatomia do corpo feminino, não é composta apenas de peito, bunda, coxas e genitália. A beleza feminina transcende o imaginário físico. Valorizar a bunda é por demais mesquinhos. Se cobrarem por favores sexuais, são pagas por muito mais do que valem.

                                   A bunda que abunda, não enaltece; mas afunda a beleza feminina, na vala profunda da imoralidade.

Peruíbe SP, 13 de fevereiro de 2018.