sábado, 27 de janeiro de 2018

SINAIS MILENARES


                                     Há seis mil anos, nascia na antiga Mesopotâmia, onde hoje é o Iraque, a escrita. Os primeiros a se estabelecerem na região da mesopotâmia foram os Sumérios (aproximadamente 4 000 a.c). Foram eles os inventores da chamada escrita cuneiforme (escrita em forma de cunha). A partir de então, as pessoas comunicavam-se através de sinais escritos e, por conseguinte, a história da humanidade passou a ser registrada e documentada.

                                               Aos sete anos, descobri através da cartilha “Caminho Suave”, de Branca Alves de Lima, a beleza das primeiras letras e palavras. Aos poucos e com o carinho da professora Maria Aparecida Almada, isso no Grupo Escolar “José Belmiro Rocha”, em Guaimbê SP, fui construindo as primeiras frases. Bastou um caderno de caligrafia, um lápis, um apontador e uma borracha, para eu enveredar pelos caminhos da literatura. Como uma criança gatinhando, a mão foi se firmando até conquistar o mundo da cultura e do conhecimento.

                                               Penso na aventura e no prazer de meus antepassados, ao registrarem através da escrita, quer seja em papiro ou pergaminho, os seus sonhos amorosos ou seus projetos de futuro. A vida evoluiu na velocidade da luz ou do som, levando o homem a conquistar universos insondáveis. A ciência e a tecnologia encurtou distância entre o ontem e o amanhã. Mas, por outro lado, tornou as pessoas mais frias, além de dar a elas, um envelhecimento precoce. A evolução e o progresso cobrou um preço muito alto.

                                               A minha sede de conhecimento, levou-me a construir uma biblioteca particular em minha casa. É nela que busco afago, quando estou carente de resposta aos questionamentos das coisas da vida e do mundo. Ao abrir um livro, viajo pelos caminhos da imaginação, como se estivesse conduzindo uma nave interplanetária. Ali, na solidão do meu eu, saboreio cada palavra e frase, embriagado pela busca incansável do saber.

                                               Vem à minha mente, que o capiau da minha terra natal, que muitas vezes não tem o conhecimento da escrita, também faz a leitura da vida ao seu derredor, através de sinais. Sabe, como ninguém, observar os sinais da natureza. Sem se socorrer a qualquer aparelho de precisão, descreve o que o vento, o sol, a lua, o canto das aves, o barulho dos animais, estão dizendo sobre o tempo de chuva, tempestade, a vinda da seca, a época de plantio e assim por diante.

                                               O caipira, sem acesso à escrita e, portanto, sem decifrar um livro, ao deparar com sua cria doente, sabe dizer qual a planta certa para fazer um remédio e curar o enfermo. Estou certo de que os sinais, representados pela escrita, mudaram o mundo há mais de seis mil anos. Mas os sinais do espírito, da alma e do coração, deixados ao homem, pelo Criador do universo, jamais serão substituídos pela descoberta dos sumérios, lá da antiga mesopotâmia.

                                               Ao decifrar os primeiros sinais da escrita, isso no banco escolar, nas manhãs primaveris de minha terra natal, descobri a importância que o conhecimento pode proporcionar ao ser humano. O homem sem cultura, não passa de um animal arredio, fadado a carregar para o resto da vida, a carga pesada da ignorância. Assim sendo, penso de que nada valeu os esforços dos sumérios.

                                               De uma coisa estou certo: “A vida passa, mas os sinais milenares da escrita permanecem”.  

 

Peruíbe SP, 27 de janeiro de 2018.

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