Quando meu pai comprou
a primeira televisão, ainda com imagem preta e branca, da marca Telefunken, tornei
um assíduo telespectador de filmes e de desenhos animados. Ao término da aula,
corria desesperadamente para casa, almoçava as pressas, ou melhor, engolia sem
mastigar, tudo isso para postar-me diante da telinha. Ali eu permanecia horas e
horas, encantado com o mundo surreal. E, por ser criança, transportava para o
meu mundo infantil, cenas retratadas nas histórias televisivas. Sentia-me um
herói, pelas ruas da cidade da minha infância.
Lembro com saudade das séries:
Daktari, Zorro, Tarzan, Daniel Boone, Paladino Justiceiro, Hawai 5.0, Kung-Fu, dentre
tantos outros. Adorava os filmes de faroeste e, por isso, sinto saudade de
atores, como Lee Van Cleef, Rock Hudson, Glenn Ford, Vincent Price, Charles
Bronson, Gregory Peck, Giuliano Gema e outras tantas feras da dramaturgia. Eu
vibrava com a valentia, coragem e determinação dos desbravadores e justiceiros
do velho oeste. Queria ser um deles e sonhava fazer justiça, para tornar o
mundo mais humano.
Já radicado há algum tempo aqui,
no “Reino Caiçara”, sinto-me como se estivesse no velho oeste do meu imaginário
infantil. Há uma verossimilhança entre o meu imaginário infantil e o mundo real
do “Reino Caiçara”. As injustiças sociais, o desrespeito à natureza, a briga
pelo poder, a violência gratuita, a falta de ética e moral na lida cotidiana,
traduzem o que digo. Nesse momento, sinto desejo em ser um herói justiceiro, o
qual, armado até os dentes, lutaria contra tudo e todos, a fim de restabelecer
a paz e a igualdade entre as pessoas. Assim, faria do “Reino Caiçara” um “Reino
Encantado”.
Andando para lá e para cá, vejo pessoas
transitando pela praia, atrelados aos seus cães e gatos, os quais defecam e
urinam descontraidamente na areia. Lixos fétidos, espalhados pelas ruas e praças.
No interior do comércio, homens e mulheres trajando minúsculas roupas de banho
e, por isso, praticamente seminus. Sons estridentes no interior das
residências, com músicas fazendo apologia ao crime e ao sexo animal.
Desrespeito às regras de trânsito, como se as ruas fossem pistas de
automobilismo. Crianças e adolescentes, ingerindo indiscriminadamente bebida
alcoólica, diante dos olhos dos pais ou responsáveis.
Essas cenas dantescas reportam ao
velho oeste, onde tudo parecia lícito, desde a disputa por terras até as mortes
violentas, atingindo crianças, mulheres e idosos. Esta monarquia, assim como
aquelas terras de ninguém, clama por heróis fortes e destemidos. Tenho vontade
de montar a cavalo e sair galopando por ai, desafiando os fora-da-lei. Empunhado
uma espada, um Colt 45 ou um Winchester 73, hei de vencer e restabelecer a
ordem e a paz, nos condados do “Reino Caiçara”. Quando do meu passamento, após
devolver a harmonia entre as pessoas, não quero um busto cravado em praça
pública. Quero apenas descansar o sono dos anjos, na morada derradeira.
Essa minha inquietação, diante das
injustiças sociais, tortura-me aos poucos. Queria ser como os heróis da telinha,
os quais, após restabeleceram a ordem e a lei, partiam em busca de novos
desafios. Vejo que eram tão inquietos, assim como eu. Tinham sede e fome de
justiça. Se eles saíssem da telinha e vissem passear pelo “Reino Caiçara”, eu
me atrelava a eles. Os desordeiros de plantão iriam ver a bala tremer e o
chicote estalar.
Os forasteiros, vindos dos mais longínquos
rincões, que pensam e que desejam fazer daqui um lugar para descarregarem suas
frustações, irão pensar duas vezes, antes de virem para cá. Hão de entender que aqui é um lugar de lazer e
não uma terra sem lei. Defenderemos com unhas e dentes, nossa natureza
exuberante, nossas praias encantadoras, nossas velhas tradições, bem como,
nossos princípios éticos e morais.
Os forasteiros (turistas) de
primeira viagem recordarão amargamente do nosso “Faroeste Tupiniquim”. The End.
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