Tenho comigo, que todo
poder embriaga e corrompe. Por isso, todas as vezes que falo sobre ele, busco
referência em duas obras literárias, de domínio público, a saber: “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel e “A Revolução dos Bichos”, de George Owell”.
As pessoas nascem puras, mas o ambiente em que vivem as corrompem, pois o homem
se adapta com facilidade ao meio em que habita, fato retratado na obra “O Cortiço”, de Aloísio de Azevedo.
Também é fascinante dissertar sobre isso.
Nada nos envaidece tanto, quando
estamos investidos de títulos e honrarias. Sentimo-nos deuses, quando temos uma
insígnia cravada na nossa vestimenta ou na nossa mente. Parece que não somos
mais terrestres e, sim, seres sobrenaturais, com poderes divinos. Uma vez
nomeados ou empossados, esquecemo-nos das pessoas à nossa volta ou dos amigos
mais próximos. Assim aconteceu, por exemplo, com um tal de “caçador de marajá”.
Mas um final amargo é reservado para essas pessoas arrogantes, que se acham
intocáveis.
Se têm uma classe que se encaixa
perfeitamente ao que ora narro, é dos mandatários e dos políticos. Ao galgarem
o mais alto posto na sociedade, esquecem que já foram povo ou pobres. Não
entendem que tudo têm um tempo e um fim. E contra isso, não há remédio. As
regalias do poder hipnotizam essas pessoas e fazem delas, escravas da luxúria.
Bebem o sangue do povo, no cálice da corrupção. Vendem a própria alma, em nome
do prazer, que as mordomias proporcionam.
Foi numa dessas observâncias, num
desses momentos de solidão, que notei que o nosso Parlamento (Câmara dos Comuns
e Câmara os Lordes), sofre de uma doença incurável, chamada “corrupção sistêmica”.
Com menos de cem dias, após serem empossados, os legisladores já estão
negociando o destino do “Reino Caiçara”, não em função do bem comum, mas, sim,
em razão de interesses próprios. Não se importam com a esperança e a angustia
do povo. Esse, também, foi o comportamento do reino anterior.
Assim como em outros reinos
além-mar, o nosso também tem donos. Tanto a Corte, quanto o Parlamento, rezam
na cartilha dos mandatários. Chego a triste conclusão de que o rei reina, mas
não governa. Além do que, corre à boca solta, de que o Rei tem uma eminência
parda. Tanto ele, quanto os parlamentares, são apenas marionetes, pau mandados,
daqueles que manipulam o poder no “Reino Caiçara”. Ao que parece, são três mandatários,
E o povo? Ora o povo! Ele só é importante em época de eleição, quando é comprado
com cestas básicas, dentaduras ou milheiros de tijolos.
Quando o Parlamento, em conluio
com a Corte, decidem à porta fechada, assuntos relevantes, longe do
conhecimento do povo e da imprensa, demonstram que a lama da propina e da improbidade
administrativa, já engoliu a honra e a dignidade dos governantes. Tentam maquiar
as mazelas da coroa, postando em “redes sociais” (tabloides modernos), reuniões
desnecessárias e inaugurações de elefantes brancos, a fim de ludibriar os
súditos desavisados e vassalos menos esclarecidos. E a Suprema Corte, que só se
preocupa com os holofotes da fama, finge nada ver, dizendo que a justiça é
cega, muda e surda.
As Províncias estão jogadas às
traças e os pagadores de impostos, veem suas patacas (moedas) esvaírem pelo
ralo da malversação do dinheiro público. O Bailarino, o Sacristão, o Hércules,
o Publicano, a Cinderela, a Jurisconsulta, bem como, os demais, já se
envergaram e não mais representam a vontade popular. Entre uma negociata e
outra, realizada na calada da noite e longe do conhecimento do povo, o
Parlamento vai se definhando aos poucos. Vai se distanciando do sagrado dever
de fiscalizar a corte, de legislar e defender o bem comum.
Enquanto os mandatários do poder
se assenhoram do patrimônio público, o Rei dorme o sono dos anjos, o Parlamento
vive o seu faz de conta, a Suprema Corte posa nas manchetes de jornal e os
súditos carregam o fardo da pobreza e da ignorância. Que Deus se apiede de nós, para
que não nos definhemos também!
Peruíbe SP, 07
de abril de 2017.
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