No apagar das
luzes, pouco há que se admirar no Reino Caiçara. O brilho nos olhos da monarca,
quando foi coroada, vai se apagando aos poucos. As festas suntuosas e os bailes
revestidos de glamour, não mais existem. Os desfiles oficiais, com a monarca em
sua carruagem real, não são mais recebidos com reverência e admiração. A coroa
dourada e cravejada com pedras preciosas pesa sobre a cabeça da Rainha e não
mais representa o poder, que dela emana.
O reino edificado há centenas de
anos, sob a égide da defesa do bem comum, foi enlameado pela embriaguez e
luxúrias do poder, fazendo corroer as colunas da ética, da moral e dos bons
costumes. As negociatas realizadas na calada da noite, nas costas do trono,
maculou a imagem da monarquia e desmoronou a longevidade do reino. O Primeiro
Ministro sucateou os cofres públicos e, para isso, corrompeu agentes públicos
em todas as esferas do poder.
Com as patacas surrupiadas do
Tesouro Real, o Primeiro Ministro comprou terras, mansões, carros luxuosos e
pessoas. Os membros do Parlamento (Câmara dos Lordes e Câmara dos Comuns) rezavam
a cartilha do mandatário. “Quem paga o almoço, escolhe o cardápio”, diz o adágio
popular. Ele aliou-se ao capô da cidade, um mafioso conhecido como “Quatro
Letras”. O braço da corrupção, comandada pelo Primeiro Ministro, alcançou a
Suprema Corte e a Policia Real. Atuou como um rolo compressor sobre seus asseclas
e desafetos.
A Polícia Real, criada para
defender os fracos e oprimidos, passou a defender os interesses escusos da
corte e dos malfeitores do reino. Enquanto a Rainha preocupava-se com o bem
estar do seu consorte, o “Conde Tupiniquim”, o Primeiro Ministro, fazendo uso
de seu poder e influência, determinava a quem o Diretor da Policia Real devia
perseguir ou matar. Assim perseguiu jornalistas, agentes policiais não
corruptos e cidadãos de pouca posse. Foi um período em que toda espécie de
crime cresceu assustadoramente, instalando-se o medo e a insegurança.
O Primeiro Ministro infiltrou nos
corredores da Policia Real, pessoas de sua confiança, com o intuito de coibir
instauração de processos contra seus atos criminosos. Tinham, dentre outras
funções, retardar investigações ou destruir provas de sua corrupção
desenfreada. O diretor nada podia fazer, ou seja, apenas cumprir ordens, pois
tinha “rabo preso” com o homem mais poderoso do reino. Foi assim que a policia
mais respeitada do reino, caiu num descrédito irreversível.
Sem uma polícia, braço direito da
ordem e da justiça, guardiã da ordem e da lei, a violência e a desordem tomou
conta dos quatro cantos do reino. Qualquer agente público de conduta ilibada,
que se opusesse a esquema montada pelo Primeiro Ministro e pelo Diretor da
Polícia Real, era perseguido com infâmias contra a sua honra ou morto
covardemente. A partir de então, passou a imperar a lei do silêncio para os
honestos ou a lei da cumplicidade para os aliados.
A ganância do reino contaminou a
policia (investigativa e montada), pois ali parecia um mercado persa, onde
negociava de tudo. Vitima de toda sorte de violência, o povo tinha medo de
procurar o amparo da lei. Sabia que para ter o seu direito garantido, precisava
pagar um preço. Os infiltrados do Primeiro Ministro tinham mais autoridade do
que o Diretor da Policia Real. A polícia se vendeu e caiu num atoleiro sem
precedentes. Os súditos reclamaram ao Parlamento e a Suprema Corte, mas de nada
adiantava, pois o Primeiro Ministro comprara a todos.
Mas como na vida, nada é eterno e
nem mesmo a própria eternidade, um dia ruiu o castelo de corrupção. O peso da
Justiça Divina fez ruir os pilares contaminados pela imoralidade. Não ficou
pedra sobre pedra, como aconteceu com as muralhas de Jericó. A lei e a verdade devoraram os malfeitores do
reino. Aos poucos, a lei foi restaurada no reino e o povo suspirou aliviado. O
direito e a justiça vencem, mesmo que desarmados.
A Rainha louca morreu de inanição,
o Primeiro Ministro com a burra cheia, abandonou o reino e o Diretor da Policia
Real, com toda máfia, foi expulso á toque de caixa. Hoje os súditos fiéis à
Monarquia acordaram de alma lavada e espírito aliviado. De uma forma tranquila,
o bem venceu o mal.
“God protect the Kingdom against its malefactors”. (Deus
proteja o Reino contra seus malfeitores).
Peruíbe SP, 05
de novembro de 2016
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