terça-feira, 29 de outubro de 2013

AS REDEAS DA VIDA


É preciso que eu tome as rédeas

As firmes rédeas deste meu eu.

E que não precise correr léguas,

Em busca de algo que se perdeu.

 

É preciso que tenha o domínio,

Longo domínio do meu futuro.

E que não me perco no fascínio,

De algo assim nebuloso, escuro.

 

É preciso que eu não me perca,

Numa estrada longa e tortuosa,

Porque pode haver tanta beleza,

Em outras floras, não só na rosa.

 

É preciso que eu acorde cedo

Bem cedo, antes do alvorecer

Para que reste segredo, medo

Do que um dia pode acontecer.

 

Peruibe SP, 29 de outubro de 2013

sábado, 19 de outubro de 2013

A BASTILHA E O REINO CAIÇARA


                                   Um dia desses, depois de uma longa jornada de trabalho, resolvi dar um tempo para mim. Para que desse certo, literalmente, procurei desligar do mundo. Nada de celular, televisão, jornal e nem mesmo aquelas visitas inesperadas. A rotina nos fazem robôs e somos manipulados pelo consumismo. Vi que era chegada a hora de deletar os inconvenientes do cotidiano. Precisava ficar zen, isto é, zen problema, já que mesmo com a correria, eu continuava zen dinheiro.

                                   Tomei um banho gelado, coloquei uma bermuda folgada, fiquei sem camisa e calcei um chinelo. Só não me incomodei com os pássaros cantoros, que todos os dias, honravam-me com encantadora visita. Descansei um litro de whisky na mesinha de centro e procurei me distanciar dos pensamentos perturbadores, frutos das responsabilidades trabalhistas, familiares e sociais. Naquele momento, queria ser invisível, como o “Fantasminha Camarada”, aquele dos desenhos da minha infância.

                                   De repente, busquei na coletânea de filmes um que me agradasse e que me fosse propício para meditar. Graciosamente veio-me às mãos “Adeus, minha Rainha”, de Benoit Jacquot. Além da elegância do figurino e do cenário, chamou-me a atenção, o enredo, qual seja: “Julho de 1789, alvorecer da Revolução Francesa. A vida no Palácio de Versalhes continua imprudente e descontraída, distante do tumulto que reina em Paris. Quando a notícia da tomada da Bastilha chega à corte, nobres e servos fogem desesperados, abandonando o Rei Luiz XVI e Maria Antonieta Josefa Joana de Habsburgo - Lorena. Sidonie Laborde, jovem leitora totalmente devotada à Rainha, não acredita no que ouve e permanece perto de sua adorada, confiante de que nada lhes acontecerá”.

                                   Durante o desenrolar da história, narrada no filme, percebi que havia uma verossimilhança com o Reino Caiçara, país em que vivo há mais de dez anos. Ao término, restou-me uma inevitável pergunta: “Será que a nossa Rainha, não aquela da ficção, ainda não percebeu que o seu reino pede por socorro?”. O povo descontente clama por providências urgentes em todos os segmentos da administração pública. Está por um triz, o momento que a Bastilha (trono) seja tomada e o poder devolvido ao povo. Os desmandos, a corrupção e a ganância desenfreada que envolve o reino, estão minando as forças do poder.

                                   Tenho pena da monarca que, assim como a Rainha Maria Antonieta, continua embriagada pelo poder e pelo assédio inescrupuloso de seus bajuladores diretos e indiretos. Enquanto isso, as províncias estão acéfalas, órfãs de sua protetora maior. As promessas, quando de sua ascensão ao torno, caíram no esquecimento e fez com que seus súditos entendessem que tudo não passou de um engodo. Temo que, a qualquer momento, nossa rainha seja condenada à guilhotina ou ao escracho popular.

                                   Para que isso não aconteça, necessário se faz, que ela tome medidas impopulares e, acima de tudo, que se expurgue do Palácio Caiçara, os falsos amigos ou colabores. É certo que, no frigir dos ovos, será abandonada e lançada á garra dos leões famintos por justiça. Não quero estar na pele da soberana e, muito menos, no desterro do esquecimento histórico a que será lançada. Já disse em outras oportunidades, que o poder pode até embriagar, mas, que é solitário. Essa lição, eu tirei do livro “Mil dias de solidão”, escrito por Cláudio Humberto Rosa e Silva (porta-voz do ex-presidente Fernando Collor de Melo).

                                   É urgente que eu encerre essa dissertação, antes que o povo, de quem emana o poder, tome a Bastilha e eu seja testemunha ocular das lágrimas pesarosas da Rainha. Que Deus se apiede de sua alma, se isso acontecer. Tomara que tudo não passe de ficção. Assim seja, amém!

 Peruíbe SP, 19 de outubro de 2013

sábado, 12 de outubro de 2013

A HONESTIDADE


                                                “Dai a Cesar o que é de Cesar, e a Deus o que é de Deus”- Mateus 22:21. “´É preciso levar vantagem em tudo, certo?” – Gerson (jogador brasileiro).

                                               Um dia desses, fiquei a meditar sobre a dualidade de duas filosofias tão extremas, porém, carregadas de um significado enorme. Desde que o homem reuniu-se em sociedade, não mais se libertou dos questionamentos da vida. “To be or not to be, that is the question” (Ser ou não ser, és a questão)– Principe Hamelet. Como um ser pensante, não posso me esquivar, desses momentos de delírio e de divagação.

                                               Não há como fugir das questões cotidianas, se todo momento, sou impulsionado a lidar com o comportamento humano, primeiro, pela função que exerço na sociedade e, depois, pelas minhas aflições internas. Vivo uma constante luta interior. Sofro em silêncio, mas, por outro lado, isso me impulsiona ao futuro. Não me importa se sou ou não compreendido. Tenho medo da unanimidade, tenho medo dos que apenas se limitam a seguir à multidão.

                                               Ainda, na minha tenra infância, na pequena cidade de Guaimbê SP, convivi com o amor fraterno, com a cumplicidade em ser útil, com a fé inabalável no Criador, com a utopia de um futuro promissor e, acima de tudo, que o homem nasceu para servir e não para ser servido. Mas quis o destino, que um dia eu partisse em retirada daquele meu pequeno mundo e fosse perambular por um mundo desconhecido. Antes não tivesse deixado aquele lugar, puro e infantil. Paguei caro por tamanha ousadia.

                                               Hoje, passados tantos anos, fui forçado a conviver com a mentira, com a ganância, com o desamor e com a incerteza do dia de amanhã. Acreditei em pessoas e em sentimentos, naufraguei. Vejo pelas ruas solitárias do presente, pessoas se digladiando por um punhado de moeda. Vendem a alma pela ostentação do poder. Perdem a honra e a dignidade, em nome de um sucesso ilusório e repentino. Perdem o leme da própria vida. Vendem-se por títulos frágeis e passageiros. A qualquer momento, posso tornar-me um heremita, assim sofro menos.

                                               Em nome do poder, se esquecem de Deus, violam os direitos comuns e rasgam as leis. E, o que é pior, tripudiam sobre a inocência das pessoas. Fatiam os cofres públicos, como se deles fossem. Espalham a miséria e dela se locupletam. Mas Deus não dorme e não abandona aqueles que O teme. Sei que justiça será feita, pois todos aqueles que se deliciaram do que nãos lhes pertenciam, vomitarão por longo tempo, devolvendo aos justos, o que lhes foi retirado. Para mim, quando criança, corrupto era apenas um crustáceo que vive na costa marinha.  

                                               Deito meu pensamento, na célebre frase do baiano Rui Barbosa, o filósofo e politico brasileiro, quando fala sobre a honestidade: “ De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a se desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto” – Rui Barbosa ( Águia de Haia).

 

Peruíbe SP, 12 de outubro de 2013   

domingo, 6 de outubro de 2013

AMOR SEM JUIZO


Eu quero te amar,

Mais do que tudo

Como amo o mar

No fim do mundo.

 

Te querer,  quero

Assim sem barreira

Com muito esmero

Por uma vida inteira

 

Quero te querendo

És minha vida, tudo

Meu sofrer é ameno

Diante do teu mundo

 

Eu quero teu carinho

Porque dele preciso.

Não me deixe sozinho

Longe do teu sorriso.

 

Nesse querer tão louco

Eu me perco e me acho

Se eu  morrer aos poucos

Que seja nos teus braços.

Peruíbe SP, 06 de outubro de 2013