Um dia desses, depois
de uma longa jornada de trabalho, resolvi dar um tempo para mim. Para que desse
certo, literalmente, procurei desligar do mundo. Nada de celular, televisão,
jornal e nem mesmo aquelas visitas inesperadas. A rotina nos fazem robôs e
somos manipulados pelo consumismo. Vi que era chegada a hora de deletar os
inconvenientes do cotidiano. Precisava ficar zen, isto é, zen problema, já que
mesmo com a correria, eu continuava zen dinheiro.
Tomei um banho gelado, coloquei
uma bermuda folgada, fiquei sem camisa e calcei um chinelo. Só não me incomodei
com os pássaros cantoros, que todos os dias, honravam-me com encantadora
visita. Descansei um litro de whisky na mesinha de centro e procurei me
distanciar dos pensamentos perturbadores, frutos das responsabilidades
trabalhistas, familiares e sociais. Naquele momento, queria ser invisível, como
o “Fantasminha Camarada”, aquele dos desenhos da minha infância.
De repente, busquei na coletânea
de filmes um que me agradasse e que me fosse propício para meditar.
Graciosamente veio-me às mãos “Adeus,
minha Rainha”, de Benoit Jacquot. Além da elegância do figurino e do
cenário, chamou-me a atenção, o enredo, qual seja: “Julho de 1789, alvorecer da
Revolução Francesa. A vida no Palácio de Versalhes continua imprudente e
descontraída, distante do tumulto que reina em Paris. Quando a notícia da
tomada da Bastilha chega à corte, nobres e servos fogem desesperados,
abandonando o Rei Luiz XVI e Maria Antonieta Josefa Joana de Habsburgo - Lorena.
Sidonie Laborde, jovem leitora totalmente devotada à Rainha, não acredita no
que ouve e permanece perto de sua adorada, confiante de que nada lhes
acontecerá”.
Durante o desenrolar da história,
narrada no filme, percebi que havia uma verossimilhança com o Reino Caiçara,
país em que vivo há mais de dez anos. Ao término, restou-me uma inevitável
pergunta: “Será que a nossa Rainha, não
aquela da ficção, ainda não percebeu que o seu reino pede por socorro?”. O
povo descontente clama por providências urgentes em todos os segmentos da
administração pública. Está por um triz, o momento que a Bastilha (trono) seja
tomada e o poder devolvido ao povo. Os desmandos, a corrupção e a ganância
desenfreada que envolve o reino, estão minando as forças do poder.
Tenho pena da monarca que, assim
como a Rainha Maria Antonieta, continua embriagada pelo poder e pelo assédio
inescrupuloso de seus bajuladores diretos e indiretos. Enquanto isso, as
províncias estão acéfalas, órfãs de sua protetora maior. As promessas, quando
de sua ascensão ao torno, caíram no esquecimento e fez com que seus súditos
entendessem que tudo não passou de um engodo. Temo que, a qualquer momento,
nossa rainha seja condenada à guilhotina ou ao escracho popular.
Para que isso não aconteça,
necessário se faz, que ela tome medidas impopulares e, acima de tudo, que se expurgue
do Palácio Caiçara, os falsos amigos ou colabores. É certo que, no frigir dos
ovos, será abandonada e lançada á garra dos leões famintos por justiça. Não
quero estar na pele da soberana e, muito menos, no desterro do esquecimento
histórico a que será lançada. Já disse em outras oportunidades, que o poder
pode até embriagar, mas, que é solitário. Essa lição, eu tirei do livro “Mil
dias de solidão”, escrito por Cláudio Humberto Rosa e Silva (porta-voz do
ex-presidente Fernando Collor de Melo).
É urgente que eu encerre essa
dissertação, antes que o povo, de quem emana o poder, tome a Bastilha e eu seja
testemunha ocular das lágrimas pesarosas da Rainha. Que Deus se apiede de sua
alma, se isso acontecer. Tomara que tudo não passe de ficção. Assim seja, amém!
Peruíbe SP, 19 de outubro de 2013