quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

PARTIR EM RETIRADA


Meu amor,

Vou-me embora ao amanhecer

Na bagagem, levarei o necessário.

Deixarei aqui, lembranças vãs.
 

No lombo do me velho cavalo,

Amarrei as alegrias e os prazeres

De um tempo tão inesquecível.
 

Os nossos segredos intocáveis,

Colocarei e fecharei no alforje,

Para que não fujam meus sonhos.
 

Em galopes lentos vou seguindo

Um caminho sem voltas e pegadas

Vou por uma estrada bela e infinita

Que me leve para onde não sei.
 

Meu amor,

Vou-me embora ao amanhecer,

Antes do cantar pesaroso do galo

Que partir num estalo, sem medo

Levar comigo todos os anseios.
 

Não quero deixar lágrimas e poeiras

Nem as marcas do que me fez sofrer.

Não quero deixar rastros nem traias

Quero apagar tudo, ah isso eu quero

Apagar tudo que ficou de mim.
 

Três Lagoas MS, 16 de dezembro de 2013

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

AMAR OU SOFRER


Um dia, sei que amei Fulana

Porque quem ama, sim ama

No outro, eu amei Beltrana

Num amor,  louco de cama.

 

Amor louco, assim sem juízo

Busquei viver cada segundo

Como um sonho, um paraíso

Num delírio belo, profundo.

 

Como o amor é tão infinito

Não tem tempo, nem espaço

Quanto mais eu me arrisco

Mais eu me perco, me acho.

 

Me acho perdido, sem rumo,

Como pássaro no firmamento

Quero viver um sono profundo

Longe do mar de sofrimento

 

Peruíbe SP, 15 de setembro de 2013

domingo, 24 de novembro de 2013

AMAR EM SILENCIO


Se o coração triste e sozinho

Acorda calado todas manhãs.

Lembro dos olhos do vizinho

Os sedutores olhos de Renan.
 

 
O meu corpo arde em brasa,

Até perco a respiração e voz.

Quando me vejo em sua casa,

Trocando olhares felizes a sós.


 
Ficam trêmulos os meus lábios

Nas pernas eu sinto fraqueza,

Dizem os amantes, os sábios:

“Isso é amor, minha princesa”.


 
O meu espirito se entorpece,

De algo que não se explicar.

Eu vou rezar uma linda prece

Sob os olhos calmos do luar.


 
Se eu fico sentada na varanda,

Olhar nele e o coração na mão.

Todos dizem: “Olha a Amanda,

Divagando, perdida de paixão”.

 

Digo que eu não me arrisco.

Faço tudo o que preciso for

Para não chamar de amigo,

A quem posso chamar amor.

 

Se o coração sozinho e triste

Sofre ali dentro de si e calado

É porque em mim você existe

Príncipe Renan, meu amado.

 

Peruíbe SP, 14 de novembro de  2013

O AMOR QUE SE FOI


Meu amor morreu,

Na beira da estrada.

De que, meu Deus?

Não sei, de nada.

 

Creio de inanição

Assim de repente

Ou do coração

Um tanto carente.

 

Muito perdido

Sem leme e proa

Longe, esquecido

Triste, quieto, atoa.

 

Passou a sua vida

Cheio de promessa

Feito um eremita

Hoje, o que resta?

 

Morreu o amor

De morte breve

Se houver flor,

Traga, pois serve.

 

Se ele ressuscitar

Nas asas do colibri

Que seja para amar

Minha eterna Eli.

 

Peruíbe SP, 24 de novembro de 2013

 

P.S: Dedicado a Elisangela Martins de Lima, minha eterna namorada

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O SABOR DAS PALAVRAS


                   Dizem que a língua portuguesa é a mais complexa, porém, a mais precisa, quando procura decifrar o significado exato de algo. Conjugar os verbos no tempo correto, definir o que é sujeito e o que é do predicado, dizer se é oxítona, paroxítona ou proparoxítona e os advérbios é, sobremaneira, muito difícil. Outras línguas,  podem soar bonitas aos nossos ouvidos, mas a nossa tem um sabor diferente. Os nossos lábios se deleitam ao pronunciarem palavras rebuscadas, arcaicas ou chulas.

                   Desde a tenra idade, tenho feito da palavra, a minha ferramenta de trabalho e de prazer. Há uma cumplicidade entre ela e eu, coisa de autoflagelação, uma simbiose inexplicável. Vou ao orgasmo, quando redijo uma poesia ou uma crônica. Viajo no mundo das letras, como se eu estivesse comandando uma nave interplanetária. Só eu sei o bom e quão suave é ser brasileiro e ter a língua portuguesa, como a língua pátria.

                   Um dia desses, passei a observar com carinho a minha esposa e, em especial, quando ela pronuncia algumas palavras em meio a frases simples e desprovidas de vaidade. Uma palavra sem sentido e, descontraidamente, colocada no meio de uma frase, tem um sabor inigualável. Não só pela palavra em si, mas pela forma como minha esposa a pronuncia. Dá uma vontade louca de comer aquela palavra catchup e mostarda.

                   Os olhos dela brilham, quando os lábios balbuciam a palavra “óbvio”. O rosto se contrai de felicidade e há uma metamorfose silenciosa por todo o seu corpo. Não sei se ela já procurou no dicionário, o significado daquela palavra tão pequena e tão doce. Penso que não deve matar tal curiosidade, pois, ao saber, perderá a graça, o encanto, o sabor. A inocência de quem a pronuncia é que transforma aquela palavra num tesouro de valor impar.  

                   Foi com o jeito simples da minha esposa, que aprendi o valor imenso que a palavra exerce sobre nossa vida... nosso cotidiano. A nossa língua não é só para degustar o alimento ou para oscular a face, mas, acima de tudo, para expressar o sentido exato daquilo que pensamos ou sentimos. Foi com minha esposa, que aprendi que o obvio não é apenas o que está claro, evidente, que salta aos olhos; mas, sim, aquilo que enche a boca ao ser pronunciado por ela.

                   Aprendi, isso sim, que a amo demais e que é óbvio que salta aos nossos olhos (meu e dela) que nascemos um para o outro. O que não traduz esse nosso sentimento é óbvio que não consta do nosso coração e nem no dicionário do “Aurélio”.

                   O óbvio pelo óbvio, deixa como está.

 

Peruíbe SP, 21 de novembro de 2013

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O AMOR DO POETA


 

Quero fazer um poema,

Que fale de sentimento.

Numa noite tão amena,

Ouvindo a voz do vento.

 

E no silêncio da palavra,

Que te amo, há de dizer.

Que no meu peito grava,

A marca do bem querer.

 

Quero fazer uma poesia,

Rabiscada num caderno.

No voo suave da cotovia,

Livre como amor eterno.

 

Quero fazer a declaração,

Mais linda deste mundo,

Para que o seu coração,

De emoção, fique mudo.

 

Quero amar como poeta,

Das letras, um sonhador.

E que o mundo em festa,

Saiba que és o  meu amor.

Peruíbe SP, 19 de novembro de 2013

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

MINHA VIDA


 
                   Quando de madrugada, já sem voz, grita teu nome, levanta-te do teu sono divinal e venha rapidamente em meu socorro. Em seguida, abraça-me com tanta ternura, de tal forma que eu possa sentir o compasso do teu coração e o cheiro do teu corpo, desabrochando em flor. Sem que eu perceba, acaricie o meu rosto lentamente, a fim d que eu possa viajar na nave de um sonho angelical.

                   Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, cante baixinho uma canção infantil, afugentando os fantasmas e pesadelos que atormentam o meu dia-a-dia. Sussurre aos meus ouvidos, com tua voz sensual, frases belas e desconexas, temperadas com carinho e erotismo, pois, só assim, compreenderei que ainda existo. O silêncio da tua ausência, aprisiona-me na cela da solidão. Só tua voz adocicada pode libertar-se e devolver-me à vida.

                   Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, esqueça dos teus afazeres e venha mansamente para mim. Cubra teu corpo apenas com um manto branco e transparente, deixando que, na penumbra do nosso leito conjugal, somente apareça a silhueta de tua alma e de teu espírito. Encostas em mim, como que me protegendo dos vendavais que assolam um coração já dilacerado. Deixa repousar nos teus seios e, numa total cumplicidade, sejas a minha rainha e escrava.

                   Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, conte-me histórias doces e belas, daquelas escondidas no baú da mina infância. Feche porta do mundo lá fora e se ver uma lágrima solitária descer pela minha face, não espante; é apenas o néctar transbordando do coração. Com tua mão, apanhe-a lentamente e coloque-a sobre teu peito, pois nela está o segredo do amor e do prazer. Traga um chá de camomila e algumas bolachas, pode ser que eu desperte e queira cear contigo.

                   Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, cubra-te com teu carinho e não deixe que a lua venha expiar-nos pela fresta da janela. Diga às estrelas, que o teu amado está queimando em febre e que só tu sabes como curar-me desta doença chamada saudade. Ponha na minha boca a tua boca, para que numa transfusão tresloucada de nossa seiva, eu possa reanimar.Entre um beijo e outro, meça com o termômetro do teu sexto sentido, o pulsar do meu sentimento. Verá que sem ti, nada sou.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

AMORES DE MARIA


Maria ama José

Com muito amor

Com muita fé.

José ama Maria

Com loucura

Noite e dia.

Maria ama João

Com intensidade

No seu coração.

João ama Maria

De tal maneira

Que dá agonia.

Maria ama Beto

Sem segredo

Como livro aberto

Beto ama Maria

Sempre escondido

Atrás da sacristia.

Maria ama Raimundo

Com intensidade

Sentimento profundo

Raimundo ama Maria

Assim sem limite

Até o fim do mundo.

Maria ama Maria

Com muito sigilo

Cumprindo profecia.

 

Peruíbe SP, 15 de novembro de 2013

FRAQUEZA


Meu Deus, dê-me paciência

De paciência muito preciso.

Senão eu ainda perco o juízo

Assim antes dos quarenta.

 

Dai-me, também, longa vida

Para eu encontrar felicidade

Sem medo e sem falsidade,

Para vencer essa velha lida.

 

Estou perdendo toda força

Que acredito que me resta

Olho meu futuro pela fresta

Ai que medo, virgem nossa.

 

Meu Deus, dê-me sabedoria

Para vencer este  meu medo.

Que amor não tenha segredo

Daquilo que foi prazer, um dia.

 

Peruíbe SP, 14 de novembro de 2013

domingo, 3 de novembro de 2013

MENINO


Menino criança,

Que brinca,

Que corre

Nunca se cansa.

Menino peralta

De alma pura

Que fica na lama

Que sai na chuva.

Menino enfadonho

Que vive quieto

Dentro de si

Esquece o resto

Menino despido

De vaidade

Que ama a cidade

Da sua infância.

Menino livre

Que chora

Que ri

E é tão feliz.

Menino infantil

Que nunca adoece

Te rezo uma prece.

Em nome do Pai.

 

Peruibe SP, 03 de novembro de 2013

terça-feira, 29 de outubro de 2013

AS REDEAS DA VIDA


É preciso que eu tome as rédeas

As firmes rédeas deste meu eu.

E que não precise correr léguas,

Em busca de algo que se perdeu.

 

É preciso que tenha o domínio,

Longo domínio do meu futuro.

E que não me perco no fascínio,

De algo assim nebuloso, escuro.

 

É preciso que eu não me perca,

Numa estrada longa e tortuosa,

Porque pode haver tanta beleza,

Em outras floras, não só na rosa.

 

É preciso que eu acorde cedo

Bem cedo, antes do alvorecer

Para que reste segredo, medo

Do que um dia pode acontecer.

 

Peruibe SP, 29 de outubro de 2013

sábado, 19 de outubro de 2013

A BASTILHA E O REINO CAIÇARA


                                   Um dia desses, depois de uma longa jornada de trabalho, resolvi dar um tempo para mim. Para que desse certo, literalmente, procurei desligar do mundo. Nada de celular, televisão, jornal e nem mesmo aquelas visitas inesperadas. A rotina nos fazem robôs e somos manipulados pelo consumismo. Vi que era chegada a hora de deletar os inconvenientes do cotidiano. Precisava ficar zen, isto é, zen problema, já que mesmo com a correria, eu continuava zen dinheiro.

                                   Tomei um banho gelado, coloquei uma bermuda folgada, fiquei sem camisa e calcei um chinelo. Só não me incomodei com os pássaros cantoros, que todos os dias, honravam-me com encantadora visita. Descansei um litro de whisky na mesinha de centro e procurei me distanciar dos pensamentos perturbadores, frutos das responsabilidades trabalhistas, familiares e sociais. Naquele momento, queria ser invisível, como o “Fantasminha Camarada”, aquele dos desenhos da minha infância.

                                   De repente, busquei na coletânea de filmes um que me agradasse e que me fosse propício para meditar. Graciosamente veio-me às mãos “Adeus, minha Rainha”, de Benoit Jacquot. Além da elegância do figurino e do cenário, chamou-me a atenção, o enredo, qual seja: “Julho de 1789, alvorecer da Revolução Francesa. A vida no Palácio de Versalhes continua imprudente e descontraída, distante do tumulto que reina em Paris. Quando a notícia da tomada da Bastilha chega à corte, nobres e servos fogem desesperados, abandonando o Rei Luiz XVI e Maria Antonieta Josefa Joana de Habsburgo - Lorena. Sidonie Laborde, jovem leitora totalmente devotada à Rainha, não acredita no que ouve e permanece perto de sua adorada, confiante de que nada lhes acontecerá”.

                                   Durante o desenrolar da história, narrada no filme, percebi que havia uma verossimilhança com o Reino Caiçara, país em que vivo há mais de dez anos. Ao término, restou-me uma inevitável pergunta: “Será que a nossa Rainha, não aquela da ficção, ainda não percebeu que o seu reino pede por socorro?”. O povo descontente clama por providências urgentes em todos os segmentos da administração pública. Está por um triz, o momento que a Bastilha (trono) seja tomada e o poder devolvido ao povo. Os desmandos, a corrupção e a ganância desenfreada que envolve o reino, estão minando as forças do poder.

                                   Tenho pena da monarca que, assim como a Rainha Maria Antonieta, continua embriagada pelo poder e pelo assédio inescrupuloso de seus bajuladores diretos e indiretos. Enquanto isso, as províncias estão acéfalas, órfãs de sua protetora maior. As promessas, quando de sua ascensão ao torno, caíram no esquecimento e fez com que seus súditos entendessem que tudo não passou de um engodo. Temo que, a qualquer momento, nossa rainha seja condenada à guilhotina ou ao escracho popular.

                                   Para que isso não aconteça, necessário se faz, que ela tome medidas impopulares e, acima de tudo, que se expurgue do Palácio Caiçara, os falsos amigos ou colabores. É certo que, no frigir dos ovos, será abandonada e lançada á garra dos leões famintos por justiça. Não quero estar na pele da soberana e, muito menos, no desterro do esquecimento histórico a que será lançada. Já disse em outras oportunidades, que o poder pode até embriagar, mas, que é solitário. Essa lição, eu tirei do livro “Mil dias de solidão”, escrito por Cláudio Humberto Rosa e Silva (porta-voz do ex-presidente Fernando Collor de Melo).

                                   É urgente que eu encerre essa dissertação, antes que o povo, de quem emana o poder, tome a Bastilha e eu seja testemunha ocular das lágrimas pesarosas da Rainha. Que Deus se apiede de sua alma, se isso acontecer. Tomara que tudo não passe de ficção. Assim seja, amém!

 Peruíbe SP, 19 de outubro de 2013

sábado, 12 de outubro de 2013

A HONESTIDADE


                                                “Dai a Cesar o que é de Cesar, e a Deus o que é de Deus”- Mateus 22:21. “´É preciso levar vantagem em tudo, certo?” – Gerson (jogador brasileiro).

                                               Um dia desses, fiquei a meditar sobre a dualidade de duas filosofias tão extremas, porém, carregadas de um significado enorme. Desde que o homem reuniu-se em sociedade, não mais se libertou dos questionamentos da vida. “To be or not to be, that is the question” (Ser ou não ser, és a questão)– Principe Hamelet. Como um ser pensante, não posso me esquivar, desses momentos de delírio e de divagação.

                                               Não há como fugir das questões cotidianas, se todo momento, sou impulsionado a lidar com o comportamento humano, primeiro, pela função que exerço na sociedade e, depois, pelas minhas aflições internas. Vivo uma constante luta interior. Sofro em silêncio, mas, por outro lado, isso me impulsiona ao futuro. Não me importa se sou ou não compreendido. Tenho medo da unanimidade, tenho medo dos que apenas se limitam a seguir à multidão.

                                               Ainda, na minha tenra infância, na pequena cidade de Guaimbê SP, convivi com o amor fraterno, com a cumplicidade em ser útil, com a fé inabalável no Criador, com a utopia de um futuro promissor e, acima de tudo, que o homem nasceu para servir e não para ser servido. Mas quis o destino, que um dia eu partisse em retirada daquele meu pequeno mundo e fosse perambular por um mundo desconhecido. Antes não tivesse deixado aquele lugar, puro e infantil. Paguei caro por tamanha ousadia.

                                               Hoje, passados tantos anos, fui forçado a conviver com a mentira, com a ganância, com o desamor e com a incerteza do dia de amanhã. Acreditei em pessoas e em sentimentos, naufraguei. Vejo pelas ruas solitárias do presente, pessoas se digladiando por um punhado de moeda. Vendem a alma pela ostentação do poder. Perdem a honra e a dignidade, em nome de um sucesso ilusório e repentino. Perdem o leme da própria vida. Vendem-se por títulos frágeis e passageiros. A qualquer momento, posso tornar-me um heremita, assim sofro menos.

                                               Em nome do poder, se esquecem de Deus, violam os direitos comuns e rasgam as leis. E, o que é pior, tripudiam sobre a inocência das pessoas. Fatiam os cofres públicos, como se deles fossem. Espalham a miséria e dela se locupletam. Mas Deus não dorme e não abandona aqueles que O teme. Sei que justiça será feita, pois todos aqueles que se deliciaram do que nãos lhes pertenciam, vomitarão por longo tempo, devolvendo aos justos, o que lhes foi retirado. Para mim, quando criança, corrupto era apenas um crustáceo que vive na costa marinha.  

                                               Deito meu pensamento, na célebre frase do baiano Rui Barbosa, o filósofo e politico brasileiro, quando fala sobre a honestidade: “ De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a se desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto” – Rui Barbosa ( Águia de Haia).

 

Peruíbe SP, 12 de outubro de 2013   

domingo, 6 de outubro de 2013

AMOR SEM JUIZO


Eu quero te amar,

Mais do que tudo

Como amo o mar

No fim do mundo.

 

Te querer,  quero

Assim sem barreira

Com muito esmero

Por uma vida inteira

 

Quero te querendo

És minha vida, tudo

Meu sofrer é ameno

Diante do teu mundo

 

Eu quero teu carinho

Porque dele preciso.

Não me deixe sozinho

Longe do teu sorriso.

 

Nesse querer tão louco

Eu me perco e me acho

Se eu  morrer aos poucos

Que seja nos teus braços.

Peruíbe SP, 06 de outubro de 2013

sábado, 21 de setembro de 2013

O REINO ADOECE


                           Ando perambulando pelas províncias e como súdito, tenho observado que há algo de podre no Reino Caiçara. Preocupa-me muito saber, que as pessoas nada sabem e nada entendem, sobre o que acontece pelos corredores palacianos. A elas são negadas as informações e quando chegam aos seus ouvidos, carecem de transparência. A ignorância intelectual do povo, não pode ser prerrogativa para os desmandos dos que estão no poder e, muito menos, cumplicidade daquela que reina.

                                   A rainha, hipnotizada pelas falsas reverências de seus bajuladores, finge desconhecer a angustia e a decepção de seu povo. Esconde-se atrás a tecnologia, para divulgar pífias realizações de um governo inerte e corrupto. Os ministros engordam suas burras, em detrimento da miséria de uma nação carente de educação, saúde, segurança, moradia, dentre tantas necessidades urgentes. A Câmara dos Comuns, cuja missão seria ver a dor do povo, se locupleta das migalhas que o trono a agracia.

                                   Não há transparência nos atos do governo e, por isso, o reino vai cambaleando das pernas. Deus sabe até quando sobreviverá. Creio que tudo dependerá da postura de Vossa Majestade, pois enquanto ela estiver embriagada pelo poder e pelo assédio de seus bajuladores, nada mudará no reino. Nesta celeuma dos desmandos palacianos, quem irá ser sacrificado como um animal obediente e indefeso: é o povo.

                                   Há um velho ditado que diz: “Em terra de cego, quem tem um olho é rei”. Quem me dera, se a rainha tivesse pelo menos um olho, para enxergar o que acontece debaixo do seu nariz! Enquanto ela divaga no seu trono, abusando das regalias que o poder concede, o povo grita por algo novo e que o faça feliz. Mas se os ouvidos da rainha, de seus ministros e de seus asseclas, estão bloqueados pela ganância, pouco resta ao povo, senão esperar a derrocada daqueles que pensam ser eternos.

                                   Por uns dias, de norte a sul e de leste a oeste, correu uma notícia preocupante, quanto à saúde reino, representado pela soberana. Eu não podia acreditar que fosse verdade. Embora não nutrisse por ela, certa admiração, longe ia o desejo de que aquilo fosse verdade. Procurei saber de pessoas próximas, bem como, dos fabricantes de boatos, sobre a veracidade do que corria de boca em boca. Todos aqueles com quem conversei, foram discretos ou evasivos. Havia no semblante dos vassalos e das pessoas ligadas ao trono, um ar de preocupação; uns por medo de perder Vossa Majestade, outros, por perder a teta do poder e do luxo.  

                                   Certa manhã, um pombo-correio, daqueles cotós de uma asa, trouxe-me a triste notícia de que a rainha iria abdicar do trono. Em seu lugar, segundo a rádio peão (aquela que não deixa você na mão), quem assumiria a vacância do trono, seria o Vice-Rei. É do conhecimento de todos, que ele goza de uma grande simpatia. Mas a pergunta que não queria calar era: “Teria ele coragem de assumir tamanho abacaxi? Aceitaria colocar em jogo, o prestigio que adquiriu ao longo da vida, para salvar um reino doente e em fase terminal?”. Com aquela notícia, houve oscilação no pregão da bolsa de valor do reino e além-mar.

                                   Do que adoece o reino e qual é o santo remédio para curar tamanha doença? Não precisamos de sábios e nem de curandeiros, para recuperarmos as energias do reino e estancar a ferida que corrói o seu futuro. Basta que o povo, um leão  adormecido, acorde em defesa do bem comum. Que se inteire do que acontece nos bastidores do poder e, uma vez que se percebe alguma falcatrua, expurgue aqueles que se locupletam. Permanecer calado diante do que se sabe, é ser cumplice do que acontece. Não podemos esquecer que todo poder emana do povo e em seu nome será exercido.

                                   Se o reino adoeceu é porque, ao invés de eliminar a doença, preferiu administrá-la.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

MARIA, MINHA MARIA!


Ah, Maria

Quantas noites

Quantos dias

Sem teu calor

Quanta agonia.

 

Ah, meu amor

Sem teu olhar

Sem teu desejo

Eu deliro

Sofro e pelejo.

 

Ah, Maria

Nesse mundo

De fantasia

Me embriago

De alegria.
 
Ah, ternura

Minha ilusão

Meu delírio

Sem teu olhar

Perco a razão.

Ah, Maria

Minha ternura

Meu desejo

Sem teu afago

Quanta loucura!

 

 Peruibe SP, 31 de agosto de 2011

A MULHER DO CORSA


Mulher linda, de um corsa prata

Que me encanta, eu não sei não.

Digo: passa o tempo que passa

Hei de conquistar o teu coração.

 

Diriges assim com desenvoltura

Com o charme que me encanta

Quando te vejo, vou à loucura,

É um carro levando uma santa.

 

Se o corsa guarda mil segredos

Eles jamais serão desvendados

Porque ele conhece os enredos

Dos amores puros e sagrados.

 

Meu querido amigo corsa prata

Que trouxe a amada para mim

Minha alma te é sempre grata

Não és carro, mas querubim!

 

Peruíbe SP, 08 de dezembro de 2011

terça-feira, 27 de agosto de 2013

MULHER NUA

Mulher nua
Como a lua
Andando na rua
Da fantasia
De noite e de dia
Sem pudor.
Mulher despida
Como a vida
Sem guarida
Buscando amor
Como a flor
Do desejo.
Mulher bela
Como primavera
Sem espera
Tão perdida
Com um sorriso
Nos lábios.
Nua mulher
Que só quer
Apenas ser feliz
Nada mais.

Peruibe SP, 27 de agosto de 2013

quarta-feira, 15 de maio de 2013

PAPAGAIO DE PIRATA

                               Desde a tenra idade, que Serguey tinha mania de grandeza. Demonstrava nos pequenos atos, que tudo ao seu redor, era descomunal. Ostentava uma posição social, a qual não correspondia a verdade. Na escola, procurava estar sempre ao lado, do diretor, do presidente da APM, dos filhos do homem mais rico da cidade. Era de poucos amigos, isso porque tinha nojo da ralé. A única coisa que não conseguia falsear a verdade, era sua cultura, pois todos percebiam que era pequena, embora esforçasse muito para sê-la grande.
                               Outra mania que tinha, era ser autoritário e, por isso, achava que todos tinham que estar aos seus pés. Os colegas de escola, de origem humilde, nutriam certo temor dele. Gostava de arrotar vantagem e valentia. O pai lavrador, a mãe lavadeira e a irmã mais velha, rampeira. Chegava sempre engomado à escola e o vinco da roupa, era fruto dos esforços e zelo da mãe. Tinha um jeito diferente dos demais, ou seja, o andar compassado, conduzia o corpo esguio e ereto. Pose de quem acha que está acima de tudo e de todos.
                               Tinha um sonho. Assim como toda criança da sua idade, tinha um sonho. Confessava na roda dos poucos amigos, que deseja ser militar, quando adulto. Em casa, colocava todos os soldadinhos de chumbo, perfilados. Imitando voz de general, dava instruções e ordens de ação em combate. Punia, sem piedade, os subalternos desobedientes. Era severo e parecia um ditador com seu exército imaginário. Adorava ser bajulado pelos seus comandados.
                               Fora do quartel de ilusões, gostava de se exibir. Adorava ficar na frente de uma máquina fotográfica ou filmadora. Em comemorações oficiais, lá estava ele ao lado do alcaide, do nobre edil, do magistrado, do delegado de policia, enfim, ao lado de quem tinha importância ou peso na sociedade. Para ele, ser visto ao lado de uma autoridade, era um troféu de valor imensurável. Tinha vergonha de sua origem humilde e, por isso, pouco falava sobre ela.
                               O tempo passou e o destino encarregou-se de transformá-lo num militar da policia secreta de seu país. Ambicioso, foi galgando postos, até chegar à patente de major. Assumiu o comando de uma unidade militar, na capital do Reino Calunga. Sacrificava os soldados para agradar o príncipe Berenzovisck, seu chefe supremo. Era um bajulador inveterado, um puxa-saco com divisa nos ombros e condecorações no peito. Posava de filantropo, virtude que jamais possuiu, isso desde a tenra idade.
             Corre um boato de que Serguey, um major da policia secreta do reino vizinho, anda rondando o palácio real, do Império Caiçara. Todo evento onde a rainha se faz presente ou sessões especiais na Câmara dos Comuns, lá está o oficial, pousando em fotos, como papagaio de pirata. Faz questão de exibir as divisas e as condecorações presas na sua farda. Ao que parece, sofre da "Sindrome de Narciso". Com essas atitudes, angariou antipatia entre seus comandados e repúdio da sociedade.
                               Dizem que ele quer um espaço no palácio real. Ao que parece, busca assumir um ministério e só aceita se for o Ministério da Defesa. Acredita que lá poderá defender todos os  interesses da corte e, acima de tudo, os seus interesses pessoais. Seus olhos não fitam o horizonte promissor do reino, mas sim, as profundezas da sua ganância pessoal. No Reino Caiçara encontrará uma terra fértil e farta, onde os asseclas de vossa Majestade se digladiam, numa luta feroz, por migalhas e interesses escusos.
                               Os piratas dos sete mares, comandados pelos três mosqueteiros, sitiaram o Reino Caiçara e tomaram de assalto o palácio. A rainha, embriagada pelo poder e muito apegada ao trono, não vê que estão cavando a sua derrocada. Não percebe que a conduzirão ao cadafalso da humilhação pública. Se não acordar do sono hipnotizante do poder, irá divagar solitária pelos corredores do abandono. Os asseclas são como ave de rapina: “Findo o alimento, bate em revoada”.
                               Até o papagaio, com sua plumagem encantadora e seu dom de falar asneiras, deixará o ombro confortável do pirata, que cego por tesouros imaginários, esqueceu das efemeridades da vida. O papagaio e o pirata naufragarão no mar solitário da vaidade. O castelo desmoronará sobre o trono da rainha embriagada pelo poder. E o major perecerá na batalha do esquecimento.
                               O papagaio, o pirata, o major e a rainha, não passarão de lenda.

Peruíbe SP, 14 de maio de 2013

sexta-feira, 3 de maio de 2013

A LEI E A REALEZA

          Conta a lenda que, ainda na infância, a nossa rainha criava um porquinho de estimação. Os moradores e os frequentadores do palácio, achavam por demais estranho aquele hobby da princesa - quando criança, ostentava esse título. Mas ninguém criticava ou caçoava, pois temiam a raiva do Conde de São Bernardo, genitor dela. Embora estranho, era muito engraçado a forma como cuidava do bichinho.
          O nome carinhoso dado a ele, por sugestão do príncipe André, do Reino do Faz de Conta, era "Torresmo". Recebia todos os cuidados dos serviçais da corte e um carinho desmedido da rainha. Quando ela estava fora do reino, em representações internacionais, disponibilizava ao suíno, um aparato de mordomias, de causar inveja aos miseráveis que caminhavam pelas ruas da pobreza.  Volta e meia, o xodó do reino, aparecia nas manchetes dos tabloides e isso causava indignação à monarca.
         Um dia, de tanto amor, a rainha promulgou uma lei, aprovada pela Câmara dos Comuns, capitulando como crime maltratar e/ou abater, em qualquer parte do reino, a espécie Scrofa de Sus, nome cientifico do querido "Torresmo". Os primeiros insurgentes, famintos por carne suína, foram levados ao cadafalso e receberam o peso da guilhotina. Graças a Torresmo, o porco passou a ser considerado sagrado no Reino Caiçara, assim como a vaca, era na Índia.
          Em todas as províncias, os obedientes súditos de vossa majestade, embora sentissem saudades da feijoada, da bisteca, do torresmo, do chouriço, do sarapatel e outras tantas quinquilharias, obedeciam piamente a determinação real. Com passar do tempo, esculpia-se estátuas, pintava-se quadros, confeccionava-se suvenir com a imagem do porco. Torresmo tornou-se a estrela maior no reino.
          Nas comemorações oficiais, lá estava Torresmo desfilando garbosamente numa carruagem feita exclusivamente para ele. Dividia com a corte, as atenções de todos os súditos. As crianças, nutriam uma admiração e um respeito enorme pelo suíno mais famoso de todas as províncias. Não foi apenas o decreto real que tornou tão amado, mas o jeito dócil de  comportar e de relacionar com os humanos. Nos livros de história nacional, haviam um espaço reservado a ele, onde se descrevia sua vida desde o nascimento, recheado de fatos reais e de lendas.
          O tempo passou, a princesa cresceu e tornou-se rainha. Na mesma proporção, Torresmo saiu da infância, passou pela juventude e desembocou na fase adulta. As tradições e os costumes da corte, nada maduram e, também, em nada foi alterado o amor e o respeito por Torresmo. Nunca antes, na história daquele país, um animal foi tão amado e respeitado. Alguns asseclas do reino, tinham uma inveja imensa dele, mas não se manifestavam, com medo da ira da rainha.
          Certa feita, Torresmo fugiu por entre as muralhas, sem que se percebesse. Ao darem por falta do nobre suíno, houve um desespero geral. Ao entrar em pânico, a rainha determinou uma busca incansável, convocando uma força tarefa, visando a localização do nobre suíno, isto é, Vossa Alteza Real, o Torresmo. A policia-secreta, o exército, a guarda-real, bem como, os obedientes súditos do reino, não mediram esforços para repatriar o fugitivo. 
          A imprensa noticiava a todo instante, em edição extraordinária, os resultados das buscas e o estado de saúde de Vossa Majestade. Houve uma reação e uma comoção nacional, uma união de todos e uma corrente de oração. Quando da localização de Torresmo, depois de dias de buscas, a monarca decretou feriado nacional, para se comemorar o reencontro tão esperado.
          Mas um dia, durante uma festa tradicional, no salão de festas do palácio, fora servido à mesa, um assado de leitão. Todos os convivas deliciavam daquele banquete, regado a bebida importada e muito sorriso descontraído. A rainha, embora mantivesse a postura séria e introvertida, inerente ao cargo, rasgava nos dentes, sem muita cerimônia, aquela carne saborosa, temperada com as melhores especiarias vindas da India. Os mordomos e garçons, não deixavam o prato da rainha, vazio.
         Mas não perceberam que, dentre os convidados, estava Sir Antony Charles Hafud, representante internacional da UIPA - União Internacional Protetora dos Animais. Não tardou para que ele, de forma discreta, cobrasse dos serviçais, aquele afronta animal. Como pode a monarquia transgredir uma lei sancionada pela própria rainha? Por isso, fora convocado extraordinariamente pela monarca, para dar explicações, o Ministro do Meio Ambiente.
         Ainda ali na mesa, tentando livrar-se de uma corte internacional, num papel toalha, com redação de próprio punho, a rainha revogou a lei por ela decretada. O banquete seguiu seu curso normal, porém, custou a cabeça do Ministro de Meio Ambiente, o qual foi exonerado "ex-oficio". Para desgraça de Torresmo, deixou de ser a estrela-maior da corte. Perdeu todas as mordomias que lhe eram de direito, por culpa do mestre de cerimônias, que não alertou os acessores - puxa-sacos-, sobre a inconstitucionalidade da lei.
          Algo semelhante ocorreu num reino vizinho, onde, por um deslize da Ministra do Transporte, o carro oficial do Principe de Jangada, foi multado em razão de haver estacionado irregularmente em local não permitido. O principe revogou a lei, sugestionada pela Ministra e ela, recebeu como recompensa pela sua incompetência, a demissão de tão nobre cargo.
          Ao observar os factóides da corte, penso: "A lei, ora a lei!".
 
Peruibe SP, 04 de maio de 2013