quinta-feira, 26 de maio de 2011

O ESPAÇO DE UM ABRAÇO

Procuro desesperadamente um espaço
E que nele tenha a medida mais correta
Traçada de forma justa e no compasso,
Para que a fraternidade não se dispersa.

Procuro desesperadamente um abraço
E que tenha a dimensão exata do afeto
Para que se entenda que é o maior laço
Entre a vida frágil, o Divino e o eterno.

Procuro desesperadamente um regaço
Onde eu possa repousar meu destino.
Sem medo da vitória ou de um fracasso,
Que vá sufocar meu sonho de menino.

Procuro desesperadamente um fiasco
De esperança escondida entre fantasia
Porque é assim que me sinto e me acho
Livre como o vôo suave de uma cotovia.

Procuro desesperadamente um traço,
Reto ou perpendicular até lá no infinito
Porque não há nada mais belo, eu acho:
Do que o espaço no abraço de um amigo.
Peruibe SP, 25 de maio de 2011

sábado, 21 de maio de 2011

PASSOS LENTOS

Tem dia que acordo meio depressivo. Quando meu espírito fica, assim tão frágil, saio a caminhar por ai. E sem eira e nem beira, passo por ruas, becos, ladeira e vielas. E nessas andanças, contemplo prazerosamente as paisagens à minha volta. Saboreio o movimento desordenado de pessoas, as andorinhas fazendo coreografias no céu, o barulho ensurdecedor de buzinas, as formas barrocas das casas em desalinhos.
Como saio sem rumo, não tenho pressa para retornar ao lar. Meu compromisso é apenas com o relaxamento físico e psicológico. O objetivo da caminhada é desintoxicar o fígado, pela ingestão dos problemas diários e rever fases da vida, como se fosse uma película de cinema. Nessas retrospectivas da vida, procuro compreender as transformações do mundo e das pessoas que me cercam.
Ao divagar com as cenas cotidianas, não percebo o tempo passar e a distância percorrida não me cansam os pés. Fico imaginando como seria o mundo, se as pessoas não tivessem pressa, se pudessem degustar com calma as belezas da vida, se fossem mais fraternas com os menos afortunados. Penso até que o paraíso está escondido na próxima esquina. Mera utopia!
De braços dados com a tristeza, caminho descalço pela areia da praia e contemplo a dança sensual das ondas do mar. Penso que o homem nasceu para ser livre e nada há que o impeça de ser feliz. De vez em quando, debruço na mesa de um bar e, sem perceber, beberico uma taça de Montila ou de Tequila. Então, compreendo que na minha cidade provinciana, as pessoas caminham em busca de liberdade, razão pelo qual os restaurantes, bares e lanchonetes estão sempre cheios.
Pena que nessa caminhada, descompromissado com a vida e com o mundo, encontrei diversas barreiras ao longo dessa estrada. Algumas, venci com certa maestria; outras, continuam intransponíveis, como rochas centenárias. Forças invisíveis dificultam minha jornada e me tornam infeliz. Mas como sou geminiano e tinhoso, não desisto. Sou xucro, como um coice de mula e, por isso, não desisto nunca. Ando devagar, porque já tive pressa e levo seu sorriso, porque já chorei demais.
Dentre tantas barreiras, a que mais me deixou inconformado ultimamente, é a ocupação desordenada das calçadas. Vejo cerceado o direito de ir e vir de cada cidadão, o que viola a Constituição Federal. Mas as pessoas, de cabeça baixa seguem a longa estrada (calçada), como se tudo fosse rotina. E os comerciantes, embriagados com o faturamento diário e com o boleto bancário, vencendo no fim do mês, ignoram o trote lento da boiada (povo).
Causa asco, saber que o poder público, vira as costas para os problemas cotidianos e rasgam o Código de Postura do Município (Lei Complementar nº 122/08). Ali reza que “deverá se mantida uma faixa livre na calçada pública de no mínimo 1.50 metros, contados a partir do meio-fio, em direção ao alinhamento predial (artigo 58, § 4º.)”. E, ainda, “quando a calçada apresentar largura incompatível com a manutenção da faixa livre, ficará proibida a colocação de qualquer obstáculo, exceto postes de rede elétrica (artigo 58, § 5º)”. Não bastasse isso, temos ainda, as calçadas construídas em desalinho, em aclive ou declive. Não podemos esquecer as calçadas esburacadas.
É preciso paz para poder seguir. Mas como seguir, sem encontramos cancelas e mata-burros, por todos os lados? E o que é pior, ninguém ouve o clamor de um povo adestrado e obediente e que não contesta as chibatadas daqueles que deveriam proteger os seus direitos. Sinto que seguir a vida, seja simplesmente conhecer a marcha e ir tocando em frente.
Creio que a lei não pode ser uma letra morta. Por isso, estou certo de que ela deve ser cumprida à risca, em que pese à revolta daqueles que buscam vantagens pessoais, em detrimento ao interesse público e coletivo. Aqui não se discute quem está no poder e que, em razão disso, prevarica; mas discute-se apenas o dever de se cumprir a lei. Afinal de contas, diz a Constituição Federal, em seu artigo primeiro, diz: “Todo poder emana do povo e, em seu nome, será exercido”.
O povo deve unir-se em torno de um ideal e da defesa de seus direitos individuais e coletivos. Digo isso, pois, segundo Renato Teixeira (compositor) reafirma: “Cada ser em si, carrega o dom de ser capaz, de ser feliz”.
Peruibe SP, 21 de maio de 2011

MEDO DE AMAR

Quando o amor bater à tua porta,
Pouco te importa se ainda é cedo.
Porque o ímpeto vento do desejo,
Muda teu doce sentimento de rota.

Assim, trôpego, triste, sem vida,
Vai sofrendo sem leme, sem rumo.
Como um barco perdido à deriva,
Longe da alegria, calado e mudo.

Porém, como tudo na vida se renova,
Se provardes o fel que tanto sonha.
Na vergonha de serdes um Casanova,
Busca afago no calmo colo da begônia.

Mas o amor tem lá seus mil segredos
E deles é que o teu coração sobrevive.
E se viveste instante de muito delírio,
É que foste feliz, sem trauma e medo.

Quanto, um dia, chegares ao teu ouvido
Que a pessoa amada partiu de repente;
Verá teu coração perecer lentamente,
Apunhalado pela ingratidão, já sofrido.

Peruibe SP, 16 de maio de 2011