quinta-feira, 24 de setembro de 2009

ETERNA MADRUGADA

A madrugada vai se escondendo mansamente, atrás da montanha azul. Num beijo solitário, a lua despede da noite amiga e vai deitar-se na relava molhada do prado em flor. Os pássaros cantoros, entoam melodias divinais ao amanhã, que vem chegando mansamente, por entre a mata verdejante. E, assim, nesta festa madrigal, acordamos sonolentos, para mais um dia que amanhece.
A cama ainda desfeita e o lençol amarrotado, são testemunhas vivas de uma entrega total. O travesseiro guarda em segredo, as juras de amor e as frases desconexas, rabiscadas no caderno de um prazer infinito. O cálice de vinho pela metade, guarda calado os gritos de êxtase, presos na garganta. È tanta felicidade, é felicidade tanta, que nos embriagamos e embriagados de amor, nos entregamos. A luz tímida do abajur, faz de cada momento, um instante infinito.
Depois da entrega total, abraçamo-nos e num silêncio estonteante, ouvimos as vozes de dois corpos saciados da fome da felicidade. O bater compassado dos corações, colados no suor da pele macia, conduz-nos por galáxias distantes e repletas de mistérios. A respiração pesada, não esconde as estradas que percorremos, no dorso de um amor indomável, na busca da realização total. Na mansidão do leito, só me perco quando te acho.
Os olhares ainda confusos, tentam decifrar o que acontece entre nós. Sem querer compreendemos que as nossas almas gêmeas não querem explicações. Na dança frenética de nossos corpos, compomos a melodia encantadora de uma noite, que insiste partir sem nada dizer. Enquanto a luz do dia expia-nos pela fresta da janela, cantamos a canção de um amor platônico. Não diga nada, deixe o silêncio falar por nós dois.
Dois corpos nus, despedidos de preconceitos, encontram naquele altar sacrossanto, a inspiração para compor o poema do amor infinito. Protegidos pela mão do Criador, despertamos felizes para a vida e para o amanhã. Ninguém, nem mesmo o vento frio da madrugada, roubou-nos os instantes dourados de prazer e de plena felicidade.
Depois de descansarmos no cansaço de dois corpos vencidos pela batalha da noite, banhamo-nos despreocupadamente sob o chuveiro da missão cumprida. A água toca lentamente as curvas sensuais do teu corpo e tu, com a leveza de tuas mãos, desliza pelo meu sexo, que a transportou para um mundo de mil loucuras. Na intimidade do nosso mundo, saboreamos a deliciosa fruta do desejo e deleitamos de tanta felicidade.
Assim que o sol da manhã, invadir a soleira da porta, vou abrir as janelas de um mundo novo e gritar aos quatro cantos da terra: “Minha linda mulher, eu te amo!”

Bauru SP, 30 de novembro de 2003

MINHA VIDA

Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, levanta-te do teu sono divinal e venha rapidamente em meu socorro. Em seguida, abraça-me com tanta ternura, de tal forma que eu possa sentir o compasso do teu coração e o cheiro do teu corpo, desabrochando em flor. Sem que eu perceba, acaricie o meu rosto lentamente, a fim de que eu possa viajar na nave de um sonho angelical.
Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, cante baixinho numa canção infantil, afugentando os fantasmas e pesadelos que atormentam o meu dia a dia. Sussurre aos meus ouvidos, com tua voz sensual, frases belas e desconexas, temperadas com carinho e erotismo, pois só assim, compreenderei que ainda existo. O silêncio da tua ausência, aprisiona-me na cela da solidão. Só tua voz adocicada, pode libertar-me e devolver-me a vida.
Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, esqueça dos teus afazeres e venha mansamente para mim. Cubra teu corpo apenas com um manto branco e transparente, deixando que, na penumbra do nosso leito conjugal, somente apareça a silueta de tua alma e de teu espírito. Encosta em mim, como que me protegendo dos vendavais que assolam um coração já dilacerado. Deixas eu repousar nos teus seios e, numa total cumplicidade, sejas a minha rainha e escrava.
Quando de madrugada, já sem voz, eu gritar teu nome, conta-me histórias doces e belas, daquelas escondidas no baú da minha infância. Fecha a porta do mundo lá fora e se ver uma lágrima solitária descer pela minha face, não espante, é apenas o néctar transbordando do coração. Com tua mão, apanhe-a lentamente e coloque-a sobre teu peito, pois nela está o segredo do amor e do prazer. Traga um chá de camomila e algumas bolachas, pode ser que eu desperte e queira cear contigo.
Quando de madrugada, gritar teu nome, cubra-me com teu carinho e não deixe que a lua venha expiar-nos pela fresta da janela. Diga às estrelas, que o teu amado está queimando em febre e que só tu sabes como curar-me desta doença chamada saudade. Ponha em minha boca a tua boca, para que numa transfusão tresloucada de nossa seiva, eu possa reanimar. Entre um beijo e outro, meça com termômetro do teu sexto sentido, o pulsar do meu sentimento. Verá que sem ti, nada sou.
Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, não pensas que estou louco ou agonizando. Procura ser paciente comigo, como a árvores é paciente com natureza e juntas formam o cenário do universo. Na mansidão dos teus olhos, busco ancorar meu desejo de ser feliz e na candura do teu corpo: pouso na nave da esperança colorida. Não sou louco, sou apenas um sonhador.
Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, dispa-me de todos os conceitos e preconceitos que a vida impõe e seja cúmplice do meu desejo. Enquanto as gotas de chuva bailam na canção do vento, escreva comigo, a melodia de dois corpos sedentos de amor e cante comigo, o refrão da magnitude de um prazer imensurável. Enquanto a madrugada caminha lentamente em busca do sol do amanhã, repousa o teu cansaço, depois de uma longa noite de amor, sobre o meu corpo molhado de alegria e vamos dormir serenamente em paz com nossos espíritos.
Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, é simplesmente para dizer que te amo e sou feliz!

Peruíbe SP, 23 de setembro de 2009

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

POSSE DOS IMORTAIS DA ACADEMIA PERUIBENSE DE LETRAS

Realizada em 19 de novembro de 2005, às 20:00 horas, no Espaço Cultural "Vitória Régia", sito à Avenida Padre Anchieta, nº 2951, Jardim Florida, Peruibe SP

DISCURSO DE POSSE
(Proferido pelo Acadêmico Adão de Souza Ribeiro, Presidente da Academia Peruibense de Letras)
Excelentíssima Senhora Julieta Fujinami Omuro, MD Vice-Prefeita; Excelentísimo Senhor Raimundo de Souza, Primeiro Sargento - comandante do Tiro de Guerra; Excelentíssimo Senhor Celso Ricardo Junior, Segundo Tenente, comandante interino da Policia Militar de Peruibe SP; Excelentíssimo Senhor José Fernandes Aparecido Zanelatto, segretário geral da Academia Peruibense de Letras, em nome de quem cumprimentamos as demais autoridades presentes. Senhores e senhoras. Nobre confrades e confreiras. Eu vos agradeço pela presença nesta solenidadede posse dos componentes da Academia Peruibense de Letras.
* A idéia da formação de Academias, nasceu a partir do momento em que nos Jardins de Academus, há exatamente dois mil, quatrocentos e dois anos atras, Platão, o genial Platão, se via cercado de uma plêiade de moços famintos do saber, sedentos do conhecer. Fundava-se ali, a Academia de Platão, a primeira de todas as Academias.
Hoje, as Academias estão presentes em todos os recantos da terra, onde quer que haja homens cobiçosos de aumentar sua sabedoria, escorados no ideal da cultura, alimento essencial para o desenvolvimento do espírito.
As Academias perseguem uma meta. Diógenes, para satisfazer a curiosidade de Platão, que buscava descobrir quais os intentos do filósofo "cínico", definiu o saber com uma farse de simplicidade encantadora: "In omnibus, respice finen" - "Em todas as coisas, considere atentamente o fim".
Por sua vez, Aristóteles proclamou que: "Nada se faz sem que haja uma razão suficiente". De fato, não existe ação sem motivo. Toda ação visa alcançar um fim. * (Extraído da Revista "A Verdade", ano XL, nº 359, setembro/outubro 90)
Estribados neste raciocínio, podemos afirmar que a Academia Peruibense de Letras tem como finalidade: a cultura do vernáculo; o apreço à literatura brasileira; a defesa permanente de nossa herança literária, científicae artística; estimulo às atividades literárias; defesa das liberdades democráticas e da livre manifestação de pensamento; do patrimônio cultural da nação em geral e, ainda, da região de Peruibe SP.
A Academia nasceu do ensejo de um grupo de escritores e poetas, convocados pelo "Jornal Análise", através da escritora Eugênia Flavian, nossa matriarca, de lapidarem na bigorna do sonho de imortalidade, o resgate da história de nosso povo. Neste primeiro ano de luta, buscamos força no Divino Criador e a pereseverança contida no coração de cada literarato. Mas nossa longa jornada, apenas começou.
A construção de uma sede própria, que temos certeza contar com o apoio das autoridades constituídas, empresas privadas e a população em geral e, ainda, o lançamento de obras e concursos literários, são apenas alguns dos nossos objetivos.
Hoje, existimos de direito e de fato. A Academia, representada pelos Acadêmicos e suas respectivas obras, são patrimônio vivo de seu povo. Embora cada um de seus membros tenha suas convicções pessoais sobre os mais diversos temas da vida, não é permitido em seu seio, o proseletismo religioso ou político. Não defendemos segmentos filosóficos, mas sim, a liberdade democrática e livre manifestação de pensamento, conforme já foi dito anteriormente.
Como pensadores e sabedores de que o progresso é essencial para o homem, temos a obrigação de lutarmos contra as injustiças sociais; a corrupção; a ignorância; os preconceitos de raça, credo ou cor; a censura; o analfabetismo; a miséria; a escravidão fisica e mental, enfim, todos os males, os quais reduzem o homem a um ser insignificante.
Não pensamos individualemente, mas, sim, coletivamente. Através da filosofia, discutida academicamente, buscamos a perfeição moral, espiritual e intelectual do homem. Buscamos na sabedorira, a resposta para a nossa transição na terra. Acreditamos que só através da cultura, o homem será capaz de romper as barreiras da ignorância e do vício. A evolução da humanidade está diretamente ligada à arte de pensar e refletir sobre os desígnios da vida. "Penso, logo existo", disse o filósofo francês Rene Descartes.
Não defendemos a arte, somente pela arte. Mas defendemos a arte, como mola propulsora da evolução da alma e do espírito e, muito mais, como bálsamo que alimenta o conehcimento. TAmbém, vemos na arte, a forma de resgatar a história de um povo. Pois um povo que não cultiva a sua história e suas tradições, não existe. Por isso, somos contra a desnacionalização de nossa lingua, o aniquilamento de nossos costumes e tradições, impostas pelas nações dominantes. A certidão de nascimento de um povo, é seu dialeto.
Irmanamo-nos com todos os segmentos artísticos da cidade. O músico, pintor, teatrólogo, artesão, historiador, encontrarão na AcademiaPeruibense de Letras, o colo onde possam ninar os sonhos nobres da arte. A partir de agora, Peruibe - cidade que amamos-, não será apenas um ponto perdido no universo; mas, com certeza, o lugar onde o presente e o passado se unem, com vistas a um furutro promissor.
Ao deliciarmos uma leitura, podemos sentir na obra, traços da época e do local onde se desenvolve a história, na visão de seu autor. Ora, então pdemos afirmar que o literato (escritor, poeta, cronista), imortaliza os costumes, tradições e o comportamento social de sua época. Então, nós, membros desta Academia Peruibense de Letras, haveremos de relatar em nossas obras, as tradições de nosso povo, para que a história escrita ao longo dos anos, não se percam com o tempo. Desejamos, portanto, que a sociedade peruibense compreenda a magnitude desta instituição cultural, pois, a partir da fundação em 21 de novembro de 2004, passamos a fazer parte do parimônio de Peruibe SP - "Cidade da Eterna Juventude".
Neste momento sublime, os Acadêmicos: CArlos Alberto Berman, Celso MArques da Silva, Cleyde de Souza Silva, Ecilla Bezerra da Silva, Edson Muratori, Eduardo José de Sena, Edwaldo Camargo Rodrigues, Eugênia Flavian, Flávio Mecchi, Henrique Natividade, José Fernandes Aparecido Janelatto, MAria Luiza de Oliveira Freitas, Marcos Caramico, MAria Juliana Correa Pereira, Marta Zelia Zachar Fujita, Roosevelt de Almeida Santos, Thereza Adelina Barros Tavares, Vera Alves Mota, Wanda Regina Fiori, Washington luiz de Paula, Jairo Costa, José Guilherme Raimundo e eu, setimo-nos honrados com a diplomação e, acima de tudo, com a presença de todos, que vieram abrilhantar esta solenidade.
Finzalizando, senhores, senhoras, nobres confrades e confreiras, rogamos a proteção do Divino Criador, para que possamos cumprir com orgulho a missão de enobrecer a cultura. A imortalidade de nossas orbras, consgrará a emoção deste momento.
Está aberta a sessão.

SE EU MORRER

Se eu morrer de amor,
Traga-me uma flôr.
Se eu morrer de tédio,
Traga-me um remédio.
Se eu morrer de tristeza,
Traga-me uma cerveja.
Se eu morrer de nada,
Traga-me uma empada.
Se eu morrer de agonia,
Traga-me o fim do dia.
Se eu morrer de fome,
Traga-me um homem.
Se eu morrer de mal-me-quer
Traga-me uma mulher.
Se eu morrer do coração,
Traga-me um quentão.
Se eu morrer de loucura,
Traga-me uma sepultura.
Se eu morrer de costa,
Traga-me uma hóstia.
Se eu morrer de doença,
Traga-me uma crença.
Se eu morrer de desejo,
Traga-me um beijo.
Se eu morrer de repente,
Traga-me um pente.
Se eu morrer de manhã,
Traga-me uma fã.
Se eu morrer de abandono,
Traga-me um pano.
Se eu morrer de delírio,
Traga-me um colírio.
Se eu morrer de frio,
Traga-me um doril.
Se eu morrer de enfarte,
Traga-me um chá mate.
Se eu morrer de escrever,
Traga-me alguém para ler!...

Campinas SP, 10 de novembro de 1981

terça-feira, 22 de setembro de 2009

POEMA VIVO (I)

Há um sol
Que longe chora
E um relógio
Sem hora.

Há uma bomba
Escondida no beco
E uma criança
Rezando terço.

Há uma noite
Ainda acordada
E um todo
Sem nada.

Há um filósofo
De pensamento avançado
E uma luta
Do lado.

Há um lago
Que alegre caminha
E uma alma
Aqui sozinha.

Há um poeta
Atrás do morro
E uma lua
Pedindo socorro.

Há uma natureza
Em agonia
E um machado
Que ria.

Há uma nave
Desvendando o universo
E uma palavra
Sem nexo,

Campinas SP, 11 de junho de 1984

A INFANCIA CIDADE

Quando eu era menino
Fugia da escola
Para jogar bola
Num terreno baldio
Com a molecada
E achava graça
Em quebrar a vidraça
Da casa abandonada.

Quando eu era menino
Com raiva ou não
Falavra palavrão
E, minutos depois,
Estava de bem
E assim vivia
De noite e de dia
Feliz como ninguém.

Quando eu era menino
Se lembro ainda dói
Eu era cowboy
E no oeste da infância
Tudo era diferente
Pois não sofria de amor
Essa grande dor
Que modifica a gente.

Quando eu era menino
Olhava para o céu
Esperando papai Noel
O velho que trazia brinquedos
Na noite de natal.
Hoje tudo é saudade
E a infância cidade
Foi tragada por vendaval.

Quando eu era menino
Tudo era belo
E o meu castelo
Construido na areia
Era de paz.
Hoje, já moço,
Sinto o gosto
Que o ódio nos traz.

Quando eu era menino
Fui garoto peralta
Sonhava muito alto
E, na simplicidade da vida,
Fazia mirabolantes planos
Hoje, sem esperança
Desejo ter morrido na infância
Dos meus dez anos!

Lins SP, 25 de maio de 1982

A PUTA E O DEPUTADO

O deputado
Deu pra puta
Um ditado
Bem esculachado.
E a luta
De ambos os lados
Não encurta
O palavreado.
Ela é boa
Ele é parlamentar;
Nãe é à-toa
Este par.
Ela se irrita
Ele fica bravo
Sua bicha
Do Senado.
Um fala de rua
Outro de lei
Eu sou sua
Diz ele: Não sei.
Um vende o corpo
Por dinheiro
Outro compra voto
Do leiteiro.
A bunda
É uma beleza
E ele se afunda
Na riqueza.
Ela pensa na família
De carro
Ele acha Brasília
Um sarro.
Dá-me prazer
Eu te peço
E se você perder
No Congresso.
E o ditado
Ainda continua
Sendo rabiscado
No seio da rua.
Diz ele: Tenho mansão
No Morumbi.
Diz ela: Mas o que é bom
Está aqui.
Na Câmara
É doutor Ernesto
Mas na cama
Só projeto.
Pro político
Ela é puta
Mas naquilo
Ela sempre foi justa.
Ela cobrapor gôzo
Ele dobra
O povo.
Com o corpo febril
Ela é puta
E ele deputado
do Brasil!!!...

Campinas SP, 21 de junho de 1982

A MORTE DO POETA

O poeta morreu
Morreu o poeta.
Não houve pezares
Não houve festa:
Apenas silêncio.
O moreno lábio
O lábio moreno.
Ainda declama o verso,
Nas noites de sereno,
Num sonho à beira-mar.
A estrofe inseparável
A inseparável estrofe.
Alí, ao lado do ataúde,
Diz: A pureza nunca morre,
Para quem sempre amou.
O corpo cansado
O cansado corpo.
Sob a campa fria
Diz que o poema moço
Não morreu, encantou-se.
É certa, irmão, a tarde
A tarde, irmão, é certa.
Se, na terra, fecham a porta.
Há sempre uma porta aberta
No céu.
Dorme o menestrel,
Sob o manto do poema.
E lá, no leito do céu,
Os anjos cantam
Hinos de amor.
O poeta morreu
Morreu o poeta.
Mas morreu de que?
De tédio,
De alegria
Ou de dores colaterais?
Não!...
Morreu o poeta
De tanto fazer poesia.
Para que, um dia,
O mundo pudesse
Sonhar mais.

Campinas SP, 17 de junho de 1982

ARVORE DO CAMPO

Querida árvore do campo,
Que lanças ao sabor do vento;
E que dorme sempre ao relento,
Neste teu sono sacrossanto.

Teu bailar, amiga, é divino!
Fazendo festa ao Eterno Criador.
Tuas verdes folhas cantam hinos,
Jubilosos hinos de amor.

É explêndida a tua madeixa
No colo morno do arrebol.
De noite a lua te beija,
De dia te abraça o sol.

Amiga, por que ficas aí parada,
A se envelhecer precocemente?
Vamos sair pela madrugada,
Para felicidade amar a gente.

Se te fere o machado
Tú em troca dás o fruto.
E não condenas o culpado,
Filho deste mundo bruto.

Do berço até a santa morte,
Temos sempre a presença tua
Mas que triste a tua sorte
Neste eito qualquer de rua!

Campinas SP, 08 de abril de 1982

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

FOI ASSIM...

A mulher do leiteiro,
Comprou carne.
A do açougueiro,
Verdura.
A do verdureiro,
Açucar.
A do usineiro,
Café.
A do cafeeiro,
Água.
A do bombeiro,
Pão.
A do padeiro,
Garapa.
A do garapeiro,
Remédio.
A do farmacèutico
Lanche.
A do lancheiro,
Pipoca.
A do pipoqueiro,
Frutas.
A do quitandeiro,
Doce.
A do doceiro,
Bebida.
A do comerciante,
Queijo.
A do quejeiro,
Farinha.
A do farinheiro,
Feijão.
A do roceiro,
Leite.
E a do poeta,
Morreu de fome.

Campinas SP, 13 de outubro de 1981

PARA SER MULHER

Para ser mulher
É preciso ter muito afeto,
Porque o resto
São coisas banais.

Para ser mulher
Não é preciso ter corpo escultural,
Pois, basta um simples vendaval
Para destruir esta fortaleza.

Para ser mulher
É preciso ter muita experiência
E uma dosagem de crença
No amor infinito.

Para ser mulher
Não é preciso ter desejo em brasa
Pois com o tempo se apaga
A chama da ilusão.

Para ser mulher
É preciso ter muito dom de cozinha
E ser uma fada madrinha
Diante do berço.

Para ser mulher
Não é preciso ter o rosto pintado
Porque é do bom passado
Que depende o presente.

Para ser mulher
É preciso ter muita fibra
E que não se intriga
Com o menestrel.

Para ser mulher
Não é preciso ter muita fineza
Antes de tudo, é preciso ter a beleza
De uma humilde amanhã.

Para ser mulher
É preciso ter muito desembaraço
E viver nos braços
De um homem só.

Campinas SP, 15 de setembro de 1981

COTIDIANO

A manhã
Desperta
E a catedral
Acerta
O ponteiro do
Sol.

O meio dia
Corre
E a praça de
Porre
Vive um eterno
Sonhar.

A tarde
Esmorece
A cidade reza uma
Prece
No seio da
Rua.

A criança
Chora
Porque a noite
Implora
O seu sono
Final.

A madrugada
Delira
Enquanto a vida
Gira
Nas asas do
Tempo.

Campinas SP, 15 de setembro de 1981

DORME, ANDRESSA

Dorme, meu anjo
Dorme, meu bem
No meu descanso
Que a noite já vem.

Dorme, minha filha
Dorme, criança
A noite brilha
No meio da dança.

Dorme, Andressa
Dorme, meu amor
Antes que adormeça
A última flôr.

Dorme, pequetita
Dorme, minha santa
A noite é infinita
As ilusões são tantas.

Dorme, minha garota
Dorme, querida
A madrugada é rota
A manhã esquecida.

Dorme, menina
Dorme, minha poesia
O dia ensina
A canção da alegria.

Dorme, minha herdeira
Dorme, flôr-de-lis
A vida inteira
Farei você feliz.

Dorme, primogênita
Dorme, paixão
Que o sono sustenta
A paz do coração.

CAmpinas SP, 14 de setembro de 1985

MARIAS

Há tanta Marias,
Marias de Deus.
São todas rainhas,
Dos olhos meus.

Maria das Dores,
Com jeito amigo.
Por onde fores,
Irei contigo.

Maria Aparecida,
Alegria nos traz.
Que fazes da vida,
Um hino de paz.

Maria do Socorro,
Com cheiro de alecrim.
De amor ainda morro,
Tem piedade de mim.

Maria da Conceição,
Amor não tem idade.
Trazes no coração,
A seiva da felicidade.

Maria de Fátima,
Uma doce mulher.
Quem te acha,
Achou a fé.

Maria das Graças,
Cadê você?
A vida passa,
E a gente não vê.

Maria de Lourdes,
Meu grande bem.
Fiz o que pude,
No amor também!

Campinas SP, 10 de julho de 1985