Adão de Souza
Ribeiro
Aquela
manhã começara diferente das outras na sagrada Terrinha. O caminhar tranquilo
das pessoas e a natureza bucólica, deram lugar a uma agitação, que nunca se viu
igual. O espaço aéreo fora fechado e nas entradas da cidade, haviam fortes
barreiras, formadas pela tropa de soldados das Forças Armadas. “ Meu
Deus, o que houve? Será que vão invadir este lugar sacrossanto? ”,
pensou o pobre Hermenegildo.
E foi então que, num repente, ele se lembrou
que o Presidente da República era filho do lugarejo. Por motivo de segurança, a
visita foi surpresa e não houve os preparativos e as varreduras de praxe,
feitas pelo Serviço de Secreto e de Inteligência. Eduardo, o mandatário da
Nação, determinou que a estadia deveria ser a mais discreta possível, isto é,
sem alarde e divulgação pela imprensa.
Eduardo estava cansado das obrigações
palacianas e das pressões políticas, que o cargo tanto exige. Embora tivesse
todas as regalias, isto é, o luxo palaciano, carros blindados e aviões,
jantares suntuosos, ele sentia falta da simplicidade do seu povo,
principalmente, da sinceridade dos amigos de infância. O Lago Paranoá, jamais
substituirá a “Lago do Hermininho”.
Naquele dia, nenhum estranho transitava pelas
ruas, somente os moradores e amigos de Eduardo. Seu Serafim, fazendeiro
abastado, preparou um churrasco, regado com cerveja e muita fartura. Um grupo
de violeiros, brindou o encontro com música sertaneja, do gosto do visitante.
Ele, o Eduardo, de um jeito descontraído, conversava e ria muito, com as piadas
dos amigos.
Depois da calorosa recepção, na chácara de
Serafim, o Presidente caminhou pelas ruas, onde, na infância, vivenciou os
melhores momentos da vida. Ele foi no “Bar do Toshio”, na “Quitanda do Josias”,
no grupo escolar, no ginásio estadual, no velho matadouro, na Igreja Matriz e
em tantos outros lugares. Ao passar defronte a casa, onde nasceu e morou, ficou
emocionado.
Ao encontrar com velhos amigos, recordou-se
de histórias que, até hoje, estão guardadas no coração. Enquanto caminhava, as
pessoas o tratava naturalmente como filho da terra e não com o puxa-saquismo em
razão do cargo. Os políticos do lugarejo, inimigos entre si, em razão da
agremiação partidária, dispensaram as rivalidades e se estribaram no
comportamento de Eduardo.
Ele passou a primeira noite na casa do tio,
que morava perto do ginásio. O quarteirão, onde localizava a casa, estava cercado
pelo corpo de segurança. Embora ele houvesse dispensado tamanha mordomia,
aquilo fazia parte do protocolo presidencial. O alcaide orientou os assessores,
que não abordassem o visitante com assuntos políticos, como, por exemplo,
solicitando verbas de benfeitorias para a cidade.
Lá na Capital Federal, quiseram saber do
paradeiro de Eduardo, porém, Carlos – o Vice-Presidente, encarregou-se de
manter sigilo da viagem do titular. No dia seguinte, ainda na Terrinha, ele
reuniu-se com quatro velhos amigos de infância e foi pescar no Rio Feio. Tudo
aquilo era uma higiene mental, isto é, ficar longe daqueles que só o procuravam
para satisfazer os interesses pessoais. Coisas de político e empresário mal
caráter.
A cidade sentia-se feliz em ser o berço
daquele filho ilustre. Foi ali que ele moldou o caráter de homem honesto;
sincero; de moral, ética e bons costumes. Com aqueles princípios, ensinados
pelos pais, professores e cidadãos exemplares, estava conduzindo com altivez os
destinos da Nação e servindo de exemplo ao mundo. Seu perfil lembrava Robispierre,
”o incorruptível”, de nome Maximilien François Marie Isidore de Robispierre (França
1758 a 1794).
Na
Terrinha foi que aprendeu defender a fauna e a flora, respeitar e cuidar dos
idosos, bem como, das crianças. Há tempos que não visitava a terra natal e não
revia velhos amigos. Ele deixou a cidade, em busca de tempos melhores, mas a cidade
nunca o deixou. Sempre que se referia ao lugar e as pessoas, fazia com orgulho.
Quando deixasse o cargo, voltaria aos braços das pessoas amadas.
Ao término da estadia, embarcou no helicóptero
oficial, que estava taxiado no campo de futebol. Por muito tempo, as pessoas
vão se lembrar daqueles dias memoráveis.
Um dia, vão lembrar do conterrâneo, que voou
alto, mas jamais perdeu a humildade!
Peruíbe SP, 20 de
abril de 2024.
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